quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Clássico sobre a imigração italiana

Jornalista e tradutora Adriana Marcolini apresenta na Praça sua versão para Em Alto Mar, do italiano Edmundo de Amicis (1846 – 1908)
Reprodução / Reprodução
O escritor italiano Edmundo de Amicis
A jornalista e tradutora Adriana Marcolini apresentou na tarde de quarta-feira (15), na Sala Oeste do Santander Cultural, , sua tradução para Em Alto Mar, livro do italiano Edmundo de Amicis (1846 – 1908). Ela depois autografa o livro na praça às 16h30min
Sucesso editorial quando foi lançado, em 1889, Em Alto Mar documenta uma travessia de imigrantes embarcados da Itália em direção a Buenos Aires. Considerado um clássico da literatura de imigração, o livro ainda não tinha tradução no Brasil. Adriana respondeu às seguintes perguntas a respeito da tradução.

É um livro que pode ser considerado um dos marcos originais da literatura de imigração?
No caso, um dos originais do ponto de vista da Itália. O Amicis era um jornalista e escritor e, na Itália, ele foi o primeiro a tomar um navio para documentar aquela jornada. Embora tenha viajado na primeira classe, a convite de um jornal na Argentina para o qual já escrevia e que pagou sua viagem para fazer umas conferências. Mas ele já sabia o que estava acontecendo com a sociedade italiana, o êxodo de uma imensa população depois da unificação. Ele foi o pioneiro a abordar esse e depois dele muitos outros fizeram o mesmo.
Em Alto Mar poderia se enquadrado de certo modo no que mais tarde o século 20 viria a chamar de "jornalismo literário"?
Eu discuti muito isso com o meu orientador. Muitos já se fizeram essa pergunta, mas a maioria dos especialistas fala que não, que é um romance com tons jornalísticos. A gente percebe que ele tem um tom jornalístico em alguns trechos. Ele tinha muita experiência acumulada como jornalista, e acho que isso ajudou. É evidente que anotou muita coisa nessa viagem, e era um exímio observador, com um senso muito apurado. Para você ter uma ideia de como ele foi criterioso em suas anotações, ele só foi escrever o livro quase cinco anos depois. Ele passou seis meses na Argentina e voltou à Itália. Entre uma coisa e outra ele publicou o Coração, seu livro mais conhecido, que demandou muito trabalho e foi um êxito, e isso requereu fazer muitas outras viagens de divulgação do livro. Então ele viajou em 1884, mas só foi escrever em 1888, usando suas anotações como base. Ele anotou e desenhou muito na viagem.
Embora seja um livro com um tom jornalístico, o que gera uma prosa com um tom mais direto, é também um livro escrito no fim do século 19. Que desafios ele representou em termos de tradução?
A dificuldade maior foram os diálogos em dialeto. Há várias passagens com diálogos em dialeto, principalmente em vêneto, que era a procedência da maioria dos viajantes, mas já também coisas no dialeto genovês. Eu tinha duas edições desse livro, e uma delas contava com a tradução para o italiano das passagens em dialeto, o que ajudou, além da consulta a amigos italianos que dominavam o dialeto. Algumas partes técnicas também foram difíceis, como uma longa descrição do motor do navio. Houve também, a necessidade de respeitar determinados tons. No início do livro, os outros passageiros o chamam de "il signore", que é uma expressão usada com ironia para se referir a ele como um representante de ricos, um viajante da primeira classe visitando a terceira.
É um livro que deve ter alguma ressonância aqui no Rio Grande do Sul, um local de imigração italiana, justamente com muita gente do Vêneto. O que você pensa disso?
Eu também sou de família italiana, também vinda do Vêneto, e me identifiquei muito ao ler o livro. Cada pessoa que é neto ou bisneto de alguém que veio naqueles navios, fez essa travessia, se essa pessoa tem um pouco de noção da história do passado familiar, ela vai se identificar. Já fiz um lançamento em uma pequena cidade mineira com imigração italiana e ali muitos se sentiram ligados àquela história.
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