Na França, é comum
ouvir nas ruas, em bate-papos às vezes nada amistosos nas mesas dos bares e em
debates acalorados na TV que os imigrantes “aproveitam” da estrutura social do
país, porque são, na maioria dos casos, pobres com um baixo nível de instrução
que buscam o paternalismo de uma nação rica.
As imagens dos
refugiados que inundaram a TV e a mídia nos últimos meses contribuíram para o
fortalecimento desse estereótipo, reforçado também pelas declarações populistas
como as da candidata da extrema-direita Marine Le Pen, favorita ao primeiro
turno das eleições presidenciais francesas.
O estudo intitulado
“O nível de instrução dos imigrantes: variado e com frequência mais elevada do
que boa parte da população francesa”, publicado nesta terça-feira (14) na
revista “População e Sociedades”, questiona essa ideia e prova que ela tem
pouco fundamento científico.
O demógrafo Mathieu
Ichou mostra que muitos grupos de imigrantes têm alto índice de diplomas de
ensino superior – superando os franceses. É o caso de 37% dos romenos que vivem
no país, 43% dos chineses, 35% dos vietnamitas, ou ainda 32% dos poloneses.
Na França, 27% tem
um diploma universitário – o mesmo índice, aliás, dos senegaleses que vivem no
país. É o caso também de outras nacionalidades do continente africano.
“Contrariamente ao que pensa uma boa parte da opinião pública, os imigrantes
malineses que chegam à Europa, vêm da classe média ou média alta de seus
países”, diz o pesquisador, entrevistado pelo jornal "Le Monde". Ele
lembra, também, que para deixar a África é preciso beneficiar de um certo nível
de capital econômico, social e intelectual.
27% dos refugiados
sírios têm diploma universitário
O fenômeno também
pode ser constatado em outros países da Europa: a demógrafa Anne Goujon, do
Instituto Demográfico de Viena, analisou o perfil dos refugiados sírios que
chegaram à Áustria no início de 2015 e constatou que 27% deles tinha diploma
ensino superior. No país, em guerra desde 2011, apenas 10% tem esse nível de
instrução. A mesma constatação foi feita entre os afegãos. A conclusão é que
apenas a população mais privilegiada conseguiu fugir da guerra e terminar seu
périplo até a Europa.
A pesquisa da
demógrafa também traz outro dado interessante: os imigrantes que estudaram
apenas até o primário representam apenas 1% da população, com exceção das
nacionalidades marroquina, com 19%, e turca, com 15%. Mathieu Ichou lembra que
os fluxos migratórios se diversificaram ao longo das décadas, o que explica a
tese da imigração "sob medida" defendida por alguns candidatos à
eleição presidencial francesa.
www.miguelimigrante.blogspot.com
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