quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Quando os refugiados não resistem ao frio europeu


© Marko Djurica / Reuters

Bruxelas classifica de "insustentáveis" as condições dos milhares de refugiados que enfrentam uma vaga de frio nos campos de acolhimento gregos. Na Grécia, em Itália e na Bulgária já morreram vários migrantes e na Alemanha foram encontrados 19 com sinais de hipotermia

A Comissão Europeia considerou, esta segunda-feira, que as condições são "insustentáveis" para milhares de refugiados que enfrentam uma onda de frio nos campos gregos, mas advertiu que a responsabilidade para melhorar a situação recai sobre as autoridades gregas. "Assegurar condições de receção adequadas na Grécia é uma responsabilidade das autoridades", disse a porta-voz da UE para a Imigração, Natasha Bertaud.
Vários refugiados já morreram de hipotermia na Grécia e em Itália, segundo o jornal The Guardian. Na ilha grega de Moria, há "mais de 2500 pessoas a viver em tendas, sem água quente ou aquecimento, incluindo mulheres, crianças e pessoas com deficiência", disse Apostolos Veizis, membro da organização Médicos Sem Fronteiras, ao jornal britânico. Paralelamente, mais de 300 pessoas estão numa situação semelhante na ilha de Samos, afirma Apostolos. A Grécia já transferiu 60 mil refugiados sírios para casas pré-fabricadas e tendas aquecidas, mas muitos ainda permanecem em acampamentos sem aquecimento.
Bruxelas está em contacto com Atenas para recordar ao governo de Alexis Tsipras a necessidade urgente de contar com "infraestruturas adicionais de acolhimento", para garantir que aos migrantes recebem uma assistência adequada.
Lydia Gall, uma investigadora da Europa Oriental e dos Balcãs ocidentais, relata que 2 mil requerentes de asilo estão a dormir em frente às zonas de trânsito da Hungria, na fronteira com a Sérvia, dentro de tendas sem aquecimento adequado, numa altura em que as temperaturas caíram para os 20 graus negativos. Diz também que em alguns casos, não só as autoridades falham em fornecer condições humanas, como também tentaram impedir que as organizações humanitárias ajudassem os migrantes.
Segundo Lydia, o governo sérvio ignorou vários pedidos feitos por grupos de ajuda em novembro e dezembro, incluindo dos Médicos Sem Fronteiras, para construir acampamentos temporários e adaptados às condições do inverno. No final de dezembro o governo húngaro fechou o maior, e segundo a investigadora, provavelmente o melhor campo de refugiados em Bicske, sem dar nenhuma explicação oficial.
Só na primeira semana de janeiro morreram 3 migrantes na Bulgária devido às baixas temperaturas. O primeiro caso reporta a uma mulher da Somália, encontrada morta na região de Burgas, perto da aldeia de Izvor, onde na sexta-feira aparecerem os corpos de mais dois homens iraquianos.
No domingo foi encontrado um grupo de 19 migrantes, incluindo cinco menores, com sinais de hipotermia numa área de descanso de uma autoestrada na Alemanha, sob temperaturas que marcavam os 20 graus negativos. A polícia disse que os migrantes pagaram entre 500 a 800 euros a um contrabandista para fazerem a viagem de um centro de acolhimento de Itália até à Alemanha. Depois de andarem uma hora numa carrinha, com matrícula do Reino Unido, o condutor abandonou-os no parque de estacionamento.
A vaga de frio polar que está a atravessar a Europa deixa milhares de migrantes vulneráveis. A Comissão Europeia já se disponibilizou a ajudar a financiar a melhoria das condições dos campos de acolhimento, mas a ação efetiva depende dos governos.
Visão
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