Apesar do impacto menos perceptível do fluxo migratório entre países
pobres, seu reflexo geopolítico tem uma grande importância no cenário mundial
Em muitos aspectos, é uma história
bem-sucedida de imigração. Ouesseni Kaboréq era açougueiro em Burkina Faso, um
país pobre no interior do continente africano. Incentivado por um tio que havia
prosperado no exterior, ele partiu de seu país em busca de um trabalho mais bem
remunerado. Kaboréq teve tanto sucesso em seu novo lar, que hoje emprega 41
pessoas, das quais 39 são imigrantes como ele. Os nativos não querem sujar as
mãos, disse.
Mas Kaboréq não imigrou para Paris ou
New Jersey. Apenas cruzou a fronteira do país vizinho, Costa do Marfim. Ele
trabalha em um grande mercado de carne em Port Bouët, nos arredores de Abidjã,
perto de uma loja que revela seu estilo moderno e elegante com uma foto de
Barack Obama no toldo. Kaboréq não é o tipo de imigrante que atrai a atenção
dos economistas, nem os que irritam os eleitores e provocam a ascensão dos
populistas ao poder no Ocidente. Ao contrário, é um tipo bastante comum, uma
tendência que está se disseminando entre os imigrantes.
A imigração internacional divide-se
em quatro categorias. A mais usual é a de pessoas de países em desenvolvimento,
que sonham com um futuro melhor em nações desenvolvidas. Segundo o McKinsey
Global Institute, 120 milhões de pessoas fizeram esse movimento migratório nos
últimos anos. O segundo maior fluxo é entre países em desenvolvimento. De 2000
a 2015, o fluxo migratório nos países da Ásia e do Oriente Médio foi maior do
que na Europa e na América do Norte.
Alguns são refugiados de guerra, como
os sírios que vivem na Jordânia e os somalis na Etiópia e no Quênia. Mas muitos
imigrantes do mundo em desenvolvimento assemelham-se a Kaboréq. Pessoas que
partem de um país pobre em busca de salários mais altos em países vizinhos
menos pobres. De acordo com o Banco Mundial, 1,5 milhão de imigrantes de
Burkina Faso vivem na Costa do Marfim, um país ainda muito pobre, com um nível
de pobreza quase igual ao de Bangladesh. No entanto, tem mais recursos que
Burkina Faso.
Muitos países pobres não estão
preparados para receber um fluxo tão grande de imigrantes nem querem. O
Paquistão está tentando expulsar os milhares de afegãos que entraram no país; o
Gabão está retirando os imigrantes da África Central de seu território; a
Tailândia expulsou os cambojanos.
Mas muitos conseguem escapar da
vigilância das autoridades. Vários imigrantes de Burkina Faso foram expulsos da
Costa do Marfim durante a guerra civil, que começou em 2002, porém retornaram.
Para as pessoas acostumadas a viver na Costa do Marfim durante anos, Burkina
Faso é pobre demais e com uma situação política extremamente instável.
Opinião & Noticia
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