terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O outro tipo de imigração

Apesar do impacto menos perceptível do fluxo migratório entre países pobres, seu reflexo geopolítico tem uma grande importância no cenário mundial

Em muitos aspectos, é uma história bem-sucedida de imigração. Ouesseni Kaboréq era açougueiro em Burkina Faso, um país pobre no interior do continente africano. Incentivado por um tio que havia prosperado no exterior, ele partiu de seu país em busca de um trabalho mais bem remunerado. Kaboréq teve tanto sucesso em seu novo lar, que hoje emprega 41 pessoas, das quais 39 são imigrantes como ele. Os nativos não querem sujar as mãos, disse.

Mas Kaboréq não imigrou para Paris ou New Jersey. Apenas cruzou a fronteira do país vizinho, Costa do Marfim. Ele trabalha em um grande mercado de carne em Port Bouët, nos arredores de Abidjã, perto de uma loja que revela seu estilo moderno e elegante com uma foto de Barack Obama no toldo. Kaboréq não é o tipo de imigrante que atrai a atenção dos economistas, nem os que irritam os eleitores e provocam a ascensão dos populistas ao poder no Ocidente. Ao contrário, é um tipo bastante comum, uma tendência que está se disseminando entre os imigrantes.

A imigração internacional divide-se em quatro categorias. A mais usual é a de pessoas de países em desenvolvimento, que sonham com um futuro melhor em nações desenvolvidas. Segundo o McKinsey Global Institute, 120 milhões de pessoas fizeram esse movimento migratório nos últimos anos. O segundo maior fluxo é entre países em desenvolvimento. De 2000 a 2015, o fluxo migratório nos países da Ásia e do Oriente Médio foi maior do que na Europa e na América do Norte.
Alguns são refugiados de guerra, como os sírios que vivem na Jordânia e os somalis na Etiópia e no Quênia. Mas muitos imigrantes do mundo em desenvolvimento assemelham-se a Kaboréq. Pessoas que partem de um país pobre em busca de salários mais altos em países vizinhos menos pobres. De acordo com o Banco Mundial, 1,5 milhão de imigrantes de Burkina Faso vivem na Costa do Marfim, um país ainda muito pobre, com um nível de pobreza quase igual ao de Bangladesh. No entanto, tem mais recursos que Burkina Faso.

Muitos países pobres não estão preparados para receber um fluxo tão grande de imigrantes nem querem. O Paquistão está tentando expulsar os milhares de afegãos que entraram no país; o Gabão está retirando os imigrantes da África Central de seu território; a Tailândia expulsou os cambojanos.

Mas muitos conseguem escapar da vigilância das autoridades. Vários imigrantes de Burkina Faso foram expulsos da Costa do Marfim durante a guerra civil, que começou em 2002, porém retornaram. Para as pessoas acostumadas a viver na Costa do Marfim durante anos, Burkina Faso é pobre demais e com uma situação política extremamente instável.

 Opinião & Noticia

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