segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Estrangeiros irregulares se refugiam em Manaus

(Foto: Márcio Azevedo)
Fugindo da instabilidade política e econômica, escassez de produtos básicos e carestia de alimentos, estrangeiros com ensino superior completo optam pela permanência ilegal em Manaus com a esperança de serem “adotados” como exilados pelo governo brasileiro em futuro próximo.
Chineses, venezuelanos, peruanos e colombianos estão, de acordo com a Polícia Federal, entre os principais grupos que chegam à cidade com visto de turista, entram pelo rio Solimões ou ainda pelo município de Pacaraima (RR), fugindo de guerrilhas e dos quadros sociais instáveis de seu país.
O delegado da Polícia Federal (PF), Marcos Vinícius Menezes, admite que é uma situação complexa a repressão aos grupos que entram pela fronteira ou se mantêm ilegais no Estado após o fim do prazo previsto no passaporte de turista. “É uma situação delicada e envolve inclusive razões humanitárias barrar algumas pessoas que querem entrar no país fugindo da violência e da instabilidade política ou econômica”, completou.
De acordo com a PF de Roraima, principal rota de entrada dos “muchachos” que vêm para Manaus, o número de cidadãos sem autorização já é um recorde histórico e pode ser considerado um dos maiores fluxos migratórios deste século no país. Por telefone, a instituição afirmou que não há como medir o número exato dos que vivem irregularmente em Roraima ou quantos destes seguem para a capital amazonense.

O casal venezuelano vende bana frita no Centro de Manaus para garantir a sobrevivência (Foto: Márcio Melo)
“Só se pode ter uma ideia quando se analisa o total de deportações realizado. De 2015 até dezembro do ano passado, foram 285 pessoas adultas, todas venezuelanas, que foram enviadas de volta”, informou a Polícia Federal.
Cobranças sociais
O professor mestre em sociologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Jorge Martins Alméno, disse não acreditar que a maioria dessas famílias que deixaram para trás sua história e suas raízes o tivesse feito se não fosse obrigada.
“Pelo agravamento da situação nos países latinos e estabilidade econômica no país, acredito, sim, que o número de ilegais poderá ascender ainda este ano a números impressionantes. Em se tratando de uma capital como a nossa, é possível que esse fluxo migratório resulte em mais cobranças na saúde, na geração de emprego diferenciados, na presença de ambulantes nas ruas e até mais policiamento urbano”, explicou Alméno.
Estão em situação irregular os “muchachos” que não fizeram o pedido de refúgio ou têm apenas o visto de turista vencido. Quando policiais fazem operações e os flagram nessa situação, eles são expulsos do país, conforme a legislação vigente.

Venesiana e Davi estão refugiados em Manaus há menos de um ano; também venezuelano, o homem trabalha com venda informal
Riscos
O risco de serem pegos vivendo ou trabalhando ilegalmente faz alguns serem arredios a fotos. É o caso do professor colombiano James Billardo, 28, que atua no Centro, vendendo camisetas e pouco fala sobre si.
“A situação social ficou insustentável para minha família por causa das guerrilhas que tomaram nossas terras e casas. Não houve condições de ficar lá. Começou a faltar comida e o dinheiro não dava para comprar alimentos e produtos de higiene. Era um inferno. Então, decidimos sair para tentar a sorte aqui em Manaus. Até sair nosso visto como refugiados, arrisco vender camisetas”, explicou.
Outra que prefere a ilegalidade temporária à falta de recursos financeiros em seu país é a costureira industrial Ana Reyes, 33, que sobrevive vendendo comida típica na frente de faculdades, no Centro.
“Nem de longe a situação atual da minha família se compara com a que vivíamos em Puerto Ordaz [Venezuela]. Apesar de não exercer por enquanto a minha profissão aqui em Manaus, eu e meu marido conseguimos comprar comida suficiente com o que ganhamos nas ruas. Depois de obter a licença [de refúgio], irei em busca de outro trabalho aqui mesmo em Manaus”, afirmou a costureira.
Do Portal Em Tempo
www.miguelimigrante.blogspot.com

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