segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Declarações de saída definitiva do Brasil crescem 60%

A turbulência econômica no Brasil, que traz a reboque a recessão e o desemprego, tem levado cada vez mais brasileiros a mudar de continente. Segundo dados da Receita Federal, desde que a crise começou até o final de 2016, o número de declarações de saída definitiva do país cresceu 60%. 
Em 2014, 11.584 brasileiros escolheram o caminho do aeroporto como saída para a falta de perspectivas no território nacional. Já no ano passado, 18.663 fizeram as malas e partiram em busca de uma vida nova em outro endereço bem longe daqui. Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália são os destinos mais procurados. 
Para Bruno Matta Machado, sócio-diretor do Upside Group, consultoria especializada em Recursos Humanos e busca e seleção de executivos, as pessoas cansaram de esperar o Brasil dar certo. 
A maioria dos emigrantes leva na bagagem MBA ou pós. São pessoas entre 40 e 50 anos, com carreira consolidada e patrimônio
“A sensação geral é de que a crise vai demorar mais tempo do que o esperado, a recuperação da economia será lenta e o futuro do país ainda dependerá da “Lava Jato”. Com isso, muita gente resolve recomeçar a vida no exterior”, afirma. 
Segundo ele, que é head hunter, a maioria dos profissionais que emigram são qualificados. Levam na bagagem, no mínimo, MBA ou pós-graduação. 
Currículo
São pessoas entre 40 e 50 anos, com bom currículo e carreira consolidada, que já construíram um patrimônio e têm um fundo de caixa. Junto com a experiência profissional e o diploma, levam a família.
“Temos acompanhado muitos profissionais saindo do Brasil para tentar fazer carreira lá fora. Outros tiram um período sabático para se aprimorar. Não querem se sentir parados e, como aqui não encontram oportunidades do seu nível, têm o ímpeto de se mover. É o que chamamos de paz de empregabilidade”, descreve. 
Ainda de acordo com Machado, os engenheiros têm se destacado entre os emigrantes. 
Conhecido pela expressão inglesa brain drain, o fenômeno da fuga de cérebros está no caso brasileiro ligado ao recente aprofundamento da crise, além de problemas estruturais como investimento insuficiente em inovação e ciência, ausência de programas de longo prazo e burocracia em excesso 

“A crise está atingindo todas as esferas, mas com o país parado, a engenharia sofreu mais. Não há investimentos em infraestrutura e o valor das commodities despencou. O resultado é pouca vaga para muito profissional”, diz. 
Neste caso, muitos tomam o avião rumo a países vizinhos na América do Sul, como Chile, Peru e Colômbia. 
“Com o desenvolvimento da indústria do aço e exploração mineral, principalmente no Chile, houve um crescimento do interesse pela mão de obra brasileira. São lugares que têm uma boa qualidade de vida, muitas vezes, superior à nossa”, diz ele, que há pouco tempo “perdeu” o sócio para uma empresa chilena. 
Somente em 2016, foram emitidas quase 47 mil novas carteiras de trabalho para estrangeiros, um número recorde no país. Eles vêm principalmente da Síria, Haiti, países africanos e vizinhos da América do Sul
Onda migratória
Diferente de outras ondas migratórias, agora os brasileiros querem cruzar a fronteira de forma legal. Passam meses se preparando para conseguir o visto de trabalho e o emprego ideal. 
“Antes, era comum ver pessoas sem qualificação buscando uma vida melhor no exterior. Hoje, isso acontece com todo tipo de gente, mas principalmente pessoas gabaritadas”, comenta o presidente da International Coach Federation, Gilson Silva. 

Brasil facilita visto de trabalho para estudantes estrangeiros de graduação e pós-graduação 
Enquanto milhares de brasileiros tentam sair do país, o Brasil abriu a possibilidade de estrangeiros ficarem no país para trabalhar. 
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), através do Conselho Nacional de Imigração, publicou em dezembro de 2016 portaria que permite que estudantes estrangeiros de graduação ou pós-graduação fiquem em território nacional após conclusão dos estudos e possam trabalhar legalmente. Antes, eles teriam que retornar ao país de origem e solicitar visto de trabalho. A medida vale também para aqueles que já terminaram os cursos e pretendem permanecer no Brasil.
O presidente do Conselho Nacional de Imigração, Paulo Sergio de Almeida, explica que, antes da resolução, o trabalho para estudantes estrangeiros era vetado. Os que desejassem trabalhar após concluir os cursos precisavam retornar ao país de origem e fazer nova solicitação de visto, desta vez, para trabalho. 
“A medida deixa o Brasil coerente com as boas práticas internacionais, ao mesmo tempo em que segura no país trabalhadores qualificados”, diz.
Almeida acredita que a nova regra deve reduzir o número de estudantes na informalidade, já que muitos enfrentam dificuldades para se manter no Brasil sem trabalhar. 
“A gente tinha um grupo de pessoas qualificadas, porque estavam cursando graduação e pós-graduação, trabalhando informalmente ou abandonando os estudos e ficando por aqui por não conseguirem pagar a faculdade”, afirma.
A conversão do visto para estudos e trabalho não será automática. Os estudantes precisarão encaminhar o pedido à Coordenação Geral de Imigração (CGIG), no Ministério do Trabalho, que analisará os casos e expedirá as autorizações.
Uma das condições para receber a autorização é que a função estabelecida no contrato de trabalho do estudante tenha relação com o currículo do curso que está sendo realizado no Brasil.

Além disso
A professora de Liderança e de Administração de Recursos Humanos da Fundação Dom Cabral (FDC), Clara Linhares, diz que também há uma turma jovem, que já fala um segundo idioma ou tem uma experiência de intercâmbio no exterior, mas sem perspectivas no Brasil vê lá fora uma chance de fincar raízes e crescer profissionalmente. 
“Esses jovens não possuem conhecimento prático, mas têm muita ousadia. Como nunca viveram uma crise e diante do desemprego, partem para no novo desafio”, diz. 
Segundo ela, o Canadá vem despontando como destino preferido entre os brasileiros, desbancando até mesmo o “queridinho” Estados Unidos e a Europa. 
A cidade de Montreal foi a escolhida como a nova morada por Bruno Fonseca, recém-formado em Ciências da Computação pela Universidade de São Paulo (USP). 
“O que ganho aqui dá pra eu viver muito bem e ainda guardar uma grana, sem falar no aprendizado, crescimento pessoal e profissional e qualidade de vida”, conta. Nem o frio congelante é capaz de desanimá-lo. “Não penso em voltar tão cedo”, garante. 
Assim como Bruno, muitos jovens têm optado pelo Canadá em função da facilidade nos processos de mudança. “O país é hoje a bola da vez”, diz a professora Clara Linhares. 
Segundo ela, existe hoje um novo sistema de migração, o Express Entry, onde o governo canadense dá a possibilidade para o profissional qualificado se tornar um residente permanente na cidade. 
Relatório sobre os primeiros 12 meses de operação do Express Entry, publicado pela Imigração Canadense em meados de 2016, mostra que em um ano 31 mil pedidos de emigração foram aprovados desde a implantação do o Express Entry. 
Como o próprio nome diz, é um sistema rápido e com burocracia reduzida. Nele, o candidato se inscreve num banco de dados on-line. Caso o perfil alcance uma boa pontuação, a pessoa recebe um convite para imigrar. 
Janaína Oliveira
Hoje em Dia
www.miguelimigrante.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário