sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Estudante somali refugiada na Malásia mostra que nunca é tarde para aprender


Durante a maior parte de sua vida, Nawa sempre viu outras crianças indo para a escola. Porém, sendo menina e refugiada, ouvia que lá não era lugar para ela. O cenário continuou o mesmo quando ela chegou na Malásia, onde refugiados não têm acesso à educação formal dentro do sistema nacional de ensino. Entretanto, com o apoio da Fugee School, um centro de ensino em Kuala Lumpur, a refugiada somali começou a estudar na idade em que outros estudantes estavam concluindo o ensino médio. “Eu passei 16 anos sem ter acesso à educação, mas querendo muito aprender. Quando ganhei minha primeira mochila para ir à escola, eu a vestia apenas para me olhar no espelho e me imaginar como estudante”, disse sorrindo. “Eu comecei na quinta série, meus colegas de classe tinham dez anos de idade ou menos. Eles zombavam de mim, mas eu não ligava para isso”.
Como ela falava apenas somali e compreendia pouco o inglês, foi reprovada em matérias no primeiro mês. Mas ela estava muito determinada a aprender, evoluiu rapidamente, avançou algumas séries e seguiu seu sonho.
“É inacreditável o quanto eu aprendi em quatro anos”, disse Nawa, agora com 20 anos. “O que me impulsiona é saber que eu sou a única pessoa da família que teve acesso à educação e que chegou tão longe. Eu também quero me tornar um exemplo para outras mulheres que têm medo de conquistar o que desejam”.
Grande defensora dos direitos das mulheres, ela se alegra em atualmente ver mais meninas do que meninos na Fugee School – o oposto do que acontecia em 2013, quando ela iniciou seus estudos. Embora saiba que algumas meninas tenham deixado os estudos devido ao casamento precoce, essa tendência parece estar mudando. “Antigamente, na Somália, as meninas costumavam se casar entre 12 e 14 anos. Agora existem muitas meninas com 20 anos ou mais que ainda não se casaram. Isso me deixa muito feliz”.
“Nós, refugiados, precisamos estudar com muito mais determinação do que os locais”.
No último ano, Nawa concluiu o ensino médio na Fugee School antes de iniciar o curso preparatório para a University of Nottingham’s Malaysia. Ela está entre os 42 estudantes refugiados atualmente matriculados em três universidades na Malásia como resultado de um intenso esforço de advocacy da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) com instituições de ensino superior.
Ainda que seja muito grata pela oportunidade, Nawa reconhece que existe uma lacuna de conhecimentos entre ela e suas novas colegas de classe malaias. “Refugiados passaram por guerras, foram forçados a se deslocar tantas vezes, e isso torna a nossa educação instável. Nós precisamos estudar com muito mais determinação do que os locais”, disse.
Nawa agora atua como voluntária na Fugee School dando aulas no jardim de infância para crianças refugiadas, três vezes por semana, para ajuda-las a preencher essa lacuna de conhecimento. “No início, meus alunos não falavam inglês. Mas eles aprenderam tão rápido que agora falam melhor do que eu”.
Entretanto, Nawa tem plena consciência dos desafios enfrentados pela Fugee School e outros 120 centros de treinamento da Malásia que são em grande parte geridos pelos próprios refugiados, com o apoio de voluntários. “Como refugiados, a única forma que temos acesso à educação é por meio dos centros de ensino. Eles estão trabalhando duro para conseguir doações, livros, professores qualificados. Mas pode ser que isso ainda não seja suficiente para que os estudantes conquistem o que almejam”, disse a vonluntária.
“Todo ser humano tem direito à educação. A educação oferece chaves para abrir qualquer porta”.
Obstáculos estruturais à parte, também é necessário vencer alguns preconceitos e barreiras sociais. Para Nawa, tem sido um grande desafio pessoal conquistar o apoio de sua mãe, que tem uma visão mais tradicional e conservadora. “Quando eu fui aceita em Nottingham, minha mãe disse, ‘de jeito nenhum, eu não acredito nisso, preciso de evidências’. Ficamos discutindo por mais de um mês sobre a possibilidade de eu ficar no campus, mas agora ela finalmente está aceitando a ideia. Ela tem visto que eu me tornei um exemplo para estudantes e suas famílias, em nossa comunidade, assegurando que refugiados possam frequentar a universidade. O fato de ser um exemplo facilitou o apoio de minha mãe”.
Nawa planeja estudar Relações Internacionais e depois trabalhar em uma organização para os direitos humanos, ou mesmo iniciar a sua própria. Ela diz que a educação, ainda que tardia, possibilitou que ela se tornasse a pessoa que é hoje. “Todo ser humano tem direito à educação. A educação oferece chaves para abrir qualquer porta. Antes de chegar à Malásia e iniciar meus estudos na Fugees School, eu não sabia o que queria para o meu futuro. Mas agora eu sei como é a vida, quais são as oportunidades que existem, e que eu estou mais preparada para contribuir para o mundo”.
Acnur
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Niños solos, el nuevo drama de la migración a Europa

La histeria se apoderó de Ahmed tras perder a sus tres hijos en un reciente naufragio en la costa egipcia del que él logró sobrevivir. Su historia es el reflejo de una preocupante tendencia en Egipto de emigración masiva de menores.
Pese a que sus familiares trataban de calmarlo asegurando que los equipos de rescate buscaban a los niños, el hombre no paraba de gritar sus nombres y golpeaba con los pies la cama del hospital de la ciudad mediterránea de Rashid en el que se recuperaba de sus heridas.
Los hijos menores de Ahmed figuran entre los desaparecidos en el hundimiento el pasado miércoles de un barco cargado con al menos 400 emigrantes, entre ellos decenas de niños y adolescentes egipcios, de los que hasta ahora 164 fueron rescatados y 162 murieron.
De haber llegado a Italia, los niños habrían podido quedarse y Ahmed quizás lo habría tenido más sencillo, ya que el acuerdo bilateral firmado entre este país y Egipto en 2007 estipula solo la deportación de los emigrantes mayores de 18 años.
Esto ha creado un efecto llamada para los menores, que incluso emprenden el viaje solos. Según la Organización Internacional para las Migraciones (OIM), Egipto es el mayor país emisor de menores migrantes no acompañados a Europa.
En 2015, Italia registró la llegada de unos 1.711 menores egipcios, más que de cualquier otro país, mientras que entre enero y mayo de este año, arribaron 1.147 menores no acompañados.
“Tengo que irme antes de cumplir 18 años”, dice a Efe con obsesión Saad, un adolescente de 17 que sobrevivió al naufragio de esta semana y que piensa echarse de nuevo a la mar pese a los riesgos.
Saad procede del pueblo de Yazira al Jadra, ubicado a unos 5 kilómetros de la desembocadura del río Nilo en el mar Mediterráneo. Otros nueve menores de su localidad murieron en el naufragio y 31 salvaron la vida.
Sentado entre sus tres hermanos y su padre, detalla que las autoridades italianas dejaron entrar a algunos amigos suyos que emigraron de forma irregular por ser menores de edad.
No solo por eso quiere Saad emigrar lo antes posible, también por la precaria situación económica de su familia, agravada desde que su padre dejó de trabajar tras ser operado del corazón.
Otro incentivo son las rebajas que ofrecen los traficantes locales a los vecinos, a los que permiten viajar por 15.000 libras egipcias (1.690 dólares), la mitad del precio establecido para los foráneos.
Las familias del pueblo no tienen además que pagar por adelantado. El monto se entrega al traficante una vez que la persona llegue a salvo a Europa, como fue el caso del ya famoso niño Ahmed Fuad.
Hace casi un mes, este menor de 13 años puso su vida en riesgo y emigró solo a Italia, donde pidió a las autoridades italianas ayuda para que su hermano viajara al país para tratarse del cáncer de leucemia que padece.
Fuad, conocido en el pueblo como “el héroe de Lampedusa”, la isla italiana a la que llegó, logró que Italia ofreciera visado a su familia, así como sacar los colores al Gobierno egipcio.
Las autoridades de El Cairo insistieron en que no era necesario el viaje y que el niño podía ser tratado en Egipto, facilitando su traslado a un hospital de la capital, donde permanece ingresado por el momento.
Su padre asegura a Efe que su hijo viajó sin informarle, pero que está “muy feliz de que esté vivo y sea bien tratado” en Italia.
El “héroe” Fuad dio a conocer con su hazaña el sufrimiento del pueblo de Yazira al Jadra, cuyos 35.000 habitantes viven en una situación de pobreza sin servicios sanitarios y educativos.
El espectador
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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Discussão ocorre pelo site do Ministério do Trabalho e fica aberta até 15 de outubro

Estão abertas as inscrições para quem quiser participar da formulação de políticas públicas voltadas à população de imigrantes estrangeiros no Brasil. O processo faz parte do I Diálogo de Participação Social, é gratuito e pode ser feito de qualquer cidade brasileira, pela internet.
Segundo o  Ministério do Trabalho, não é preciso ser especialista no assunto. Basta preencher uma ficha de inscrição disponível no site da campanha e dar sua contribuição à área. O prazo termina em 15 de outubro.
O presidente do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), Paulo Sérgio de Almeida, lembra que esse debate está ocorrendo no mundo todo devido à grande movimentação de pessoas entre regiões e países, que também atinge o Brasil. “Recentemente tivemos um novo momento no País, com a chegada de uma quantidade grande de pessoas de países diferentes daqueles que estávamos acostumados a acolher. Isso gerou um debate muito intenso em termos de construção de política pública. Por isso, qualquer cidadão que tem interesse pode participar dessa construção”, explica.
O debate virtual está dividido em eixos para facilitar a participação. São eles:
Eixo 1 – Processo contínuo de construção da política migratória: diálogos entre o CNIg e a sociedade civil;
Eixo 2 – Atualização da política nacional de migração e proteção dos trabalhadores e trabalhadoras migrantes;
Eixo 3 – Direitos dos trabalhadores e trabalhadoras migrantes;
Eixo 4 – Integração sociolaboral;
Eixo 5 – Recepção e informação ao trabalhador e trabalhadora migrante;
Eixo 6 – Diversidade e gênero na política de imigração laboral;
Eixo 7 – Emigração de trabalhadores e trabalhadoras retornados/as.
As sugestões apresentadas pela internet servirão de base para o I Encontro de Diálogos do Fórum de Participação Social com a Sociedade Civil, marcado para 4 e 5 de novembro, em São Paulo.
Mais informações sobre a programação podem ser consultadas no evento do facebook do Ministério do Trabalho.
Fonte: Portal Brasil, com informações do Ministério do Trabalho
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Ministério da Justiça reconhece erro ao manter imigrantes detidos no aeroporto de Guarulhos

Estrangeiros são isolados no aeroporto de Guarulhos (Crédito: Arquivo Pessoal)
Estrangeiros são isolados no aeroporto de Guarulhos
Crédito: Arquivo Pessoal
Denise Ribeiro
Depois de manter imigrantes detidos no aeroporto de Guarulhos, na grande São Paulo, o Ministério da Justiça voltou atrás e reconheceu o erro. Os estrangeiros viviam no Brasil, alguns por mais de cinco anos, e aguardavam a conclusão do pedido de refugio. Pela antiga norma, eles podiam deixar o Brasil por até 90 dias e poderiam retornar ao país e aguardar o fim do processo. Foi o que alguns fizeram, por motivos diversos. Mas, ao retornarem, tiveram a informação de que a norma tinha sido alterada pelo governo federal e que não poderiam mais entrar no Brasil, mesmo com a autorização validada antes da viagem.
A nova portaria passou a valer dias depois de o presidente Michel Temer afirmar na ONU que estudava uma forma de incluir refugiados no país; o procedimento, no entanto, foi na contramão do que o peemedebista afirmou. Os imigrantes estão detidos por cerca de quatro dias; a denúncia foi publicada no portal PONTE. Desde domingo eles aguardam ser liberados; estão no Conector, como é chamada a área do aeroporto internacional de São Paulo para onde são levados estrangeiros sem documentos ou autorização para entrar no Brasil.
De acordo com a advogada de quatro imigrantes, Patrícia Vega, a situação é insustentável e parte do grupo chegou a iniciar uma greve de fome. Neste momento, a advogada que conversou com a reportagem CBN aguarda a liberação dos clientes no aeroporto de Guarulhos. São imigrantes de países como Líbano, Nigéria, Serra Leoa, China e Senegal.
A assessoria de imprensa da Policia Federal no aeroporto informou que os 32 estrangeiros, que retornaram ao Brasil e que aguardam a conclusão do processo de refugio, serão liberados ainda hoje. Por meio de nota, o ministério da justiça informou que Comitê Nacional para os Refugiados orientou a PF a liberar o reingresso dos imigrantes, porque a exigência do visto ainda não foi deliberada pelo Comitê.

CBN

Missão Paz realiza o IIº Seminário de Serviço Social e Imigração com debate sobre políticas públicas para migrantes



Direitos sociais são reivindicações de grupos populares, dentre eles migrantes com acesso precário ou à margem de políticas públicas como educação, saúde, documentação, trabalho, moradia, equidade de gênero e segurança. Hoje, a Missão Paz realizou o IIº Seminário de Serviço Social e Imigração cujo tema foi “Políticas Públicas para migrantes” e teve debates, para um público de mais de 200 pessoas, sobre a necessidade de políticas públicas e mediações entre associações, Igrejas, poder público, movimentos sociais e profissionais de diversas áreas para a efetivação de direitos e inserção social dos migrantes numa perspectiva intercultural. O evento contou com um primeiro momento expositivo e um segundo momento de trabalho em formato de oficinas temáticas comandadas por membros da equipe da Missão Paz e convidados.

No intervalo todos cantaram e dançaram com a presença alegre e carismática da cantora de El Salvador Celina Castro!
Dentre os expositores, primeiro painel contou com a participação do padre Paolo Parise, diretor do Centro de Estudos Migratórios da Missão Paz; Letícia Carvalho, assessora de advocacy da Missão Paz; Larissa Leite, coordenadora de proteção do Centro de Referencia para Refugiados da Cáritas São Paulo e Camila Baraldi, da Coordenação de Políticas para Migrantes da Prefeitura de São Paulo os quais trouxeram uma introdução às políticas públicas para migrantes no Brasil e na cidade de São Paulo. O segundo painel discutiu politicas públicas e intersetorialidade: complexidades e impactos na atuação do assistente social e teve a presença de Esther Vargem, assistente social da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Suelma de Deus Branco, assistente social e docente da FAPSS São Caetano e Uniesp.

Aos que participaram, a comissão organizadora agradece a presença e informa que os certificados serão enviados no prazo de 30 dias.

Missão Paz

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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Após Temer se comprometer com refugiados na ONU, 30 estrangeiros são isolados em aeroporto

 Mais de 30 estrangeiros de diversas nacionalidades como libaneses, senegaleses, guineenses e nigerianos estão na área de desembarque do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, sem poder entrar no Brasil. Solicitantes de refúgio, eles saíram do País com autorização de retorno e foram surpreendidos por nova normativa quando regressaram. Agora estão isolados de qualquer conhecido, numa zona obscura do aeroporto e da lei.
A nova portaria foi baixada pelo Ministério da Justiça, por meio da Polícia Federal, dois dias depois de o presidente Michel Temer dizer em reunião da ONU que estuda facilitar a inclusão de refugiados no País. A Nota Informativa 09/2016 da Divisão de Polícia de Imigração, emitida dia 21 de setembro, fala sobre a necessidade de estrangeiros portadores de protocolo de solicitação de refúgio requererem visto para retornar ao País.
Isso quer dizer que os solicitantes de refúgio terão trâmites a mais do que pessoas que viajam ao País como turistas por exemplo, mesmo muitas vezes sendo originários de países em situação de conflito, onde é ainda mais difícil ter acesso à burocracia.
Três estrangeiros que conversaram com o R7 afirmam que viajaram antes da emissão da portaria, por motivos diversos, e que não foram  informados sobre a necessidade do visto quando desembarcassem novamente. A autorização de saída concedida pela Polícia Federal seria válida por 90 dias.
Isolado no aeroporto há cinco dias, Abulai Camara, de 41 anos, conta que saiu do Brasil há três meses para acompanhar o enterro do pai na Guiné Bissau. Retornou na última semana com a certeza de reencontrar a namorada, grávida de oito meses.
— Saí do Brasil com o protocolo e agora volto e o governo diz que não vale mais. Fui com a consciência tranquila.  Se tivessem dito que precisaria de visto para voltar, nem teria saído.
Situação semelhante vive o nigeriano Michel, de 24 anos. Foragido de perseguição do grupo extremista Boko Haram, ele vive no Brasil há dois anos, onde construiu carreira e família. Ele trabalha como técnico de manutenção de ar condicionado em São Paulo e organizou a viagem à Nigéria, por poucos dias, para buscar seus documentos para se casar no Brasil. A namorada de Michel está grávida de três meses.
— Peguei meus documentos, como pediram, e comprei a aliança. Quando cheguei aqui, disseram que iam me deportar. Essa situação é muito difícil para mim, quero ficar. Minha namorada precisa de mim, não posso abandonar ela aqui sozinha com a minha filha na barriga. Ela me liga e chora todos os dias.
O grupo reclama da pequena quantidade de comida oferecidaCedida por Michael
Abandono
Além do isolamento, os estrangeiros contam que foram instalados de maneira absolutamente precária no maior aeroporto do País. O grupo enfrenta, há dias, noites geladas dormindo no chão — alguns com cobertores oferecidos pelas companhias aéreas, outros nem isso. A comida é pouca e gelada, como relata Abulai.
— Estamos deitando no piso mesmo. Nos dão comida três vezes por dia, mas é muito pouco. De manhã, vem um pão francês com azeite queimado. Na hora do almoço, berinjela com batata. E só.
Com os objetos pessoais nas malas, longe da sala, o banho fica inviável. O grupo relata que não teve acesso nem mesmo a produtos de higiene pessoal. Segundo o senegalês Birani Meayue, de 34 anos, alguns deles já começam a perder peso.
— Só dão salada com batata todos os dias, o frango não presta. Todo mundo aqui está emagrecendo muito. Nós não merecemos isso na vida. Todo mundo aqui é trabalhador e responsável.
Meayue mora no Brasil há sete anos e conta que viajou no dia 4 de maio para visitar a família no Senegal. Ele trabalha em um frigorífico em Santa Catarina, onde mora de aluguel e vive cercado de dezenas de amigos. Agora, preso em Cumbica, perdeu o direito até mesmo de defesa.
A advogada Patrícia Vega, que tem três clientes entre o grupo, conta que não lhe informaram nem onde fica a sala. Ela foi impedida pela Polícia Federal de encontrar seus clientes e está inconformada com a decisão do governo.
— Essa normativa pegou todo mundo de calça curta. Ainda mais depois que o presidente disse que o Brasil está de braços abertos para os refugiados. Não dá para dizer que eles podem sair com o protocolo e na hora que voltam a regra mudou. Essas pessoas têm trabalho e família aqui. Não pude acessá-los nem para pegar os documentos e entrar com mandado de segurança.
Greve de fome
De acordo com Abulai, agentes da Polícia Federal estiveram, na tarde desta terça-feira (27), na sala onde estão retidos e chegaram a intimidá-los.
— Estão dizendo que, se a gente não voltar, vamos ficar nessa situação péssima, por dois, três anos. Estão intimidando a gente. Só que já decidimos: se não reverem nossa situação, vamos entrar em greve de fome, amanhã a partir do meio dia.
Governo
Procurado pelo R7, o Ministério da Justiça afirmou, na noite desta terça-feira (27), que o Conare [Comitê Nacional para os Refugiados] estava "tomando as providências para solução imediata do problema".
Lumi Zúnica, da TV Record, e Érica Saboya, do R7
R7

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Luta por direitos dos imigrantes é tema de exposição em São Paulo

“Estamos na cidade, mas ninguém nos enxerga”, diz a boliviana Jobana Moya, que tem sua história contada na mostra “Direitos migrantes: nenhum a menos”, no Museu da Imigração
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Vista da exposição. Foto: Divulgação
Era o ano de 1991. Verônica chegava a São Paulo com sete anos. Acompanhava sua família, que vinha da Bolívia, para encontrar o pai já estabelecido na capital. Preocupada com a educação dos filhos, a mãe de Verônica procurava uma escola que aceitasse recebê-los, já que ainda estavam irregulares no País. A estadual Prudente de Moraes permitiu matriculá-los. Dois anos se passaram e a Secretaria de Educação estabeleceu algumas mudanças na matrícula dos alunos. Um dos requisitos era que os estudantes fossem cadastrados com o R.G. Em outubro de 1994, o diretor convocou Verônica e outras crianças, que foram obrigadas a deixar a escola por não terem documentos. “Na época, eu tinha 11 anos” – conta Verônica Yujira – “fiquei muito triste e percebi a importância que tinha um documento, e o quanto não tê-lo podia me tirar”. Yujira se formou em Odontologia e idealizou o projeto Si Yo Puedo, que promove cursos voltados para a comunidade boliviana. A história de Yujira, dentre tantas outras que se relacionam com a imigração contemporânea, pode ser conferida na exposição Direitos migrantes: nenhum a menos, em cartaz no Museu da Imigração, em São Paulo.
A mostra apresenta dois projetos de história oral desenvolvidos pelo museu: Conselheiros extraordinários imigrantes nos conselhos participativos municipais; e Mulheres em movimento: migração e mobilização feminina no Estado de São Paulo. No primeiro, estão entrevistas com imigrantes que, a partir de 2014, foram eleitos para os conselhos municipais. São congoleses, bolivianos, malineses, que puderam participar pela primeira vez da política brasileira, já que no Brasil só podem votar os estrangeiros que estejam regularizados no País há mais de 15 anos. Já o outro projeto aborda o movimento de mulheres que, nos últimos anos, se fortaleceu dentro da comunidade imigrante, formando em 2014 a primeira frente de mulheres que participou da Marcha dos Imigrantes.
Segundo a curadora da mostra e integrante do núcleo de pesquisa do museu, Tatiana Waldman, a exposição propõe uma conexão entre o passado e o presente. “O grande papel do museu é promover um diálogo entre essas experiências históricas e contemporâneas. O ato de imigrar tem muitos pontos em comum, independentemente dele ter sido no final do século XIX ou no início do XXI”, afirma. Localizado no bairro tradicional do Brás, o museu ocupa a antiga hospedaria de imigrantes que recebeu mais de 2,5 milhões de pessoas que chegaram ao Brasil, desde 1887. Essas memórias de uma geração que veio para o País há dois séculos se conectam agora com uma nova história, de imigrantes que lutam por seus direitos, em um momento no qual a xenofobia e o fechamento de fronteiras ganha cada vez mais força.
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Vista da exposição. Foto: Divulgação
O “outro”
Na primeira sala da mostra, o público entra em um espaço pequeno e escuro. Nas paredes desse ambiente claustrofóbico há frases como: “E se você estivesse em um país onde você não pode escolher seu representante político?” ou “Você não tem acesso a serviços de educação”. Waldman ressalta que a intenção desta sala é remeter às fronteiras legais que impedem o acesso dos imigrantes a seus direitos: “O Estatuto do Estrangeiro é uma legislação que nasceu em 1980, no período de ditadura militar no Brasil, e ainda é uma herança que a gente carrega desse passado. Essa permanência reforça uma visão do migrante como um estrangeiro, uma ameaça, o ‘outro’. E é justamente esse estigma que tentamos quebrar, fazendo com que as pessoas reflitam sobre quem constrói essa fronteira entre nós e os outros”.  A curadora ainda enfatiza que atualmente no Brasil vivem cerca de 1 milhão e meio de imigrantes. Já o número de brasileiros que moram fora do País é de aproximadamente 3 milhões e meio.  Há, portanto, um grande número de brasileiros que são imigrantes, o que também questiona a separação entre “nós” e os “outros”.
Em contraponto à primeira sala, a exposição apresenta outro espaço no qual estão localizados os depoimentos dos projetos de história oral, além de fotos e vídeos que retratam as manifestações políticas e culturais como a Marcha dos Imigrantes, que acontece todo dezembro em São Paulo, e a Festa de Alasitas, celebração típica da Bolívia. Alguns dos vídeos exibidos foram feitos pelo Visto Permanente, coletivo que produz audiovisual sobre artistas imigrantes em São Paulo. Segundo Cristina De Branco, integrante do coletivo: “As mídias hegemônicas brasileiras retratam o imigrante como um estranho, um exógeno, alguém que vem deturpar a nacionalidade, ameaçando uma pureza natural que sabemos não existir. A imigração é pautada de uma maneira negativa e até violenta. Os bolivianos, por exemplo, são sempre associados ao trabalho escravo. Os haitianos são aqueles que chegam em massa invadindo o país. O imigrante é visto assim como um problema. Diante disso, criamos um canal midiático que propõe uma representação alternativa a essa imagem negativa veiculada pela imprensa”, afirma. O vídeo mais acessado do coletivo, que apresenta o grupo de rap boliviano Santa Mala, pode ser assistido na exposição.
Na segunda sala também há um destaque especial para a militância das mulheres imigrantes. Segundo Jobana Moya, boliviana que vive no Brasil desde 2007 e participou do projeto de história oral, “as mulheres em geral já estão numa situação de vulnerabilidade, mas as que são imigrantes enfrentam ainda mais dificuldades. Por exemplo, caso uma brasileira sofra qualquer tipo de violência doméstica, ela pode denunciar na delegacia da mulher. Mas se você é imigrante e não está regularizada, você não vai denunciar, pois é provável que a polícia se atenha mais com a sua situação imigratória do que com o que de fato ocorreu”. Por isso, Moya, enfatiza a importância de que as mulheres imigrantes se mobilizem e conquistem seu espaço: “Em muitos eventos feministas que vamos com o coletivo, as pessoas falam: ‘Pelas mulheres negras, deficientes.. e todas as demais especificidades’. Porém, eu juro, nunca escutei ninguém falar das mulheres imigrantes e refugiadas. Estamos na cidade, mas ninguém nos enxerga”, afirma a ativista que participa do coletivo Equipe de Base Warmis.
É justamente esse esforço de dar visibilidade a grupos marginalizados que marca a exposição.  Segundo Cristina De Branco, do Visto Permanente: “Continuamos dando muito destaque para as mesmas comunidades históricas, como a japonesa, a italiana, alemã, que na sua grande maioria vieram num processo de branqueamento do Brasil. Mas ainda somos resistentes a comentar sobre esses imigrantes que vieram para cá nos últimos anos e que são, em sua maioria, de fenótipo indígena e negro. O grande desafio realmente é falar sobre essas novas imigrações assumindo um discurso antirracista e antixenófobo”.
Para a curadora da mostra, um dos principais objetivos é enfatizar que a imigração é um direito humano e que “todas as pessoas estão sujeitas em algum momento da vida a querer ou precisar migrar”. A luta pela garantia desses direitos é o que está em pauta hoje e aparece nos depoimentos da exposição. Segundo Verônica Yujira, que desde cedo aprendeu o quanto a legislação brasileira pode ser elitista: “Hoje a gente vive uma disputa ideológica. A disputa que existe não só no Brasil, como no mundo, é que tipo de sociedade queremos construir: uma que seja inclusiva, com respeito à diversidade, ou outra que seja excludente. Não existe universalidade pela metade”, afirma.
Serviço – Direitos migrantes: nenhum a menosAté 18 de dezembro
Museu da Imigração do Estado de São Paulo
Rua Visconde de Parnaíba, nº 1316 – Mooca –São Paulo
Informações: (11) 2692-1866 
www.museudaimigracao.org.br

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