quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Crise faz haitianos deixarem o Vale em busca de oportunidades fora do país

A esperança que moveu milhares de haitianos para terras brasileiras desde 2010 é a mesma que agora direciona muitos deles a destinos longe do país. Não que falte fibra e persistência à nova geração de imigrantes do Vale. Mas demissões e escassez de emprego tornaram a permanência na região mais uma provação para a fé haitiana. Há um ano Morney Nedear, 23 anos, trocou o Haiti por Navegantes em busca de uma vida melhor. Mas o sonho dourado tem esbarrado na dificuldade nos tempos de retração. Nem mesmo a experiência da formação em Direito obtida em uma universidade do Haiti tem facilitado a conquista de um emprego. A ajuda de amigos que têm em comum não só a nacionalidade, mas também a fé e a coletividade, é fundamental para continuar a luta sob o sol do Litoral.
— Muita gente foi embora, mas não quero sair do Brasil. Deus vai trazer algo bom – profetiza.
Os riscos a serem enfrentados na condição de estrangeiro fazem muitos haitianos já decididos não falarem sobre os planos de saída do Brasil. O fato é que o desemprego tem trazido dias sombrios até mesmo para quem enfrentou o terremoto e as mazelas do Haiti. Raoul Clerveau, 46, ainda não pensa em sair da casa em que mora, no bairro Itoupava Central, mas sabe que para isso precisa voltar a ter uma renda mensal para custear a vida em Blumenau e ajudar a família na terra natal. Precisa fazer com que a vida seja mais como os dois anos e meio que viveu por aqui e menos como o último mês, quando perdeu o emprego em uma empresa têxtil.
Histórias de dificuldade como essas se tornaram comuns no círculo de amigos de Jeanpaulo Poloville Desrosiers, 28. Gazman, como é conhecido entre os amigos e que significa homem de negócios, aportou em Blumenau em março de 2013 e foi um dos personagens da reportagem especial Brezilyen, publicada pelo Santa em junho do ano passado sobre a imigração haitiana no Vale.
Desde o fim de 2015, Desrosiers afiou o português, coloriu os cabelos e ajudou conterrâneos. Também viu amigos serem demitidos de indústrias de setores como têxtil e cristaleiro e partirem para destinos como Chile, Guiana Francesa e Estados Unidos. Nos dois primeiros, os atrativos seriam a facilidade de encontrar trabalho e entrar no país e a valorização do salário em relação ao dólar. Já nos EUA, a migração exige uma jornada arriscada e cansativa de vários dias por países da América do Sul e Central.
Desrosiers não pretende alçar voo. Quer continuar no Brasil, preservar a estabilidade que conquistou e ajudar a manter os amigos na região.
— Crise há em outros lugares e com certeza vai passar. Deus não está dormindo.

JORNAL DE SANTA CATARINA - BLUMENAU

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