quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2015


JÁ NÃO ESCRAVOS, MAS IRMÃOS
1.      No início dum novo ano, que acolhemos como uma graça e um dom de Deus para a humanidade, desejo dirigir, a cada homem e mulher, bem como a todos os povos e nações do mundo, aos chefes de Estado e de Governo e aos responsáveis das várias religiões, os meus ardentes votos de paz, que acompanho com a minha oração a fim de que cessem as guerras, os conflitos e os inúmeros sofrimentos provocados quer pela mão do homem quer por velhas e novas epidemias e pelos efeitos devastadores das calamidades naturais. Rezo de modo particular para que, respondendo à nossa vocação comum de colaborar com Deus e com todas as pessoas de boa vontade para a promoção da concórdia e da paz no mundo, saibamos resistir à tentação de nos comportarmos de forma não digna da nossa humanidade.
Já, na minha mensagem para o 1º de Janeiro passado, fazia notar que «o anseio duma vida plena (…) contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar». Sendo o homem um ser relacional, destinado a realizar-se no contexto de relações interpessoais inspiradas pela justiça e a caridade, é fundamental para o seu desenvolvimento que sejam reconhecidas e respeitadas a sua dignidade, liberdade e autonomia. Infelizmente, o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade. Tal fenómeno abominável, que leva a espezinhar os direitos fundamentais do outro e a aniquilar a sua liberdade e dignidade, assume múltiplas formas sobre as quais desejo deter-me, brevemente, para que, à luz da Palavra de Deus, possamos considerar todos os homens, «já não escravos, mas irmãos».
À escuta do projecto de Deus para a humanidade
2.      O tema, que escolhi para esta mensagem, inspira-se na Carta de São Paulo a Filémon; nela, o Apóstolo pede ao seu colaborador para acolher Onésimo, que antes era escravo do próprio Filémon mas agora tornou-se cristão, merecendo por isso mesmo, segundo Paulo, ser considerado um irmão. Escreve o Apóstolo dos gentios: «Ele foi afastado por breve tempo, a fim de que o recebas para sempre, não já como escravo, mas muito mais do que um escravo, como irmão querido» (Flm 15-16). Tornando-se cristão, Onésimo passou a ser irmão de Filémon. Deste modo, a conversão a Cristo, o início duma vida de discipulado em Cristo constitui um novo nascimento (cf. 2 Cor 5, 17; 1 Ped 1, 3), que regenera a fraternidade como vínculo fundante da vida familiar e alicerce da vida social.
Lemos, no livro do Génesis (cf. 1, 27-28), que Deus criou o ser humano como homem e mulher e abençoou-os para que crescessem e se multiplicassem: a Adão e Eva, fê-los pais, que, no cumprimento da bênção de Deus para ser fecundos e multiplicar-se, geraram a primeira fraternidade: a de Caim e Abel. Saídos do mesmo ventre, Caim e Abel são irmãos e, por isso, têm a mesma origem, natureza e dignidade de seus pais, criados à imagem e semelhança de Deus.
Mas, apesar de os irmãos estarem ligados por nascimento e possuírem a mesma natureza e a mesma dignidade, a fraternidade exprime também a multiplicidade e a diferença que existe entre eles. Por conseguinte, como irmãos e irmãs, todas as pessoas estão, por natureza, relacionadas umas com as outras, cada qual com a própria especificidade e todas partilhando a mesma origem, natureza e dignidade. Em virtude disso, a fraternidade constitui a rede de relações fundamentais para a construção da família humana criada por Deus.
Infelizmente, entre a primeira criação narrada no livro do Génesis e o novo nascimento em Cristo – que torna, os crentes, irmãos e irmãs do «primogénito de muitos irmãos» (Rom 8, 29) –, existe a realidade negativa do pecado, que interrompe tantas vezes a nossa fraternidade de criaturas e deforma continuamente a beleza e nobreza de sermos irmãos e irmãs da mesma família humana. Caim não só não suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por inveja, cometendo o primeiro fratricídio. «O assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gen 4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros».
Também na história da família de Noé e seus filhos (cf. Gen 9, 18-27), é a falta de piedade de Cam para com seu pai, Noé, que impele este a amaldiçoar o filho irreverente e a abençoar os outros que o tinham honrado, dando assim lugar a uma desigualdade entre irmãos nascidos do mesmo ventre.
Na narração das origens da família humana, o pecado de afastamento de Deus, da figura do pai e do irmão torna-se uma expressão da recusa da comunhão e traduz-se na cultura da servidão (cf. Gen 9, 25-27), com as consequências daí resultantes que se prolongam de geração em geração: rejeição do outro, maus-tratos às pessoas, violação da dignidade e dos direitos fundamentais, institucionalização de desigualdades. Daqui se vê a necessidade duma conversão contínua à Aliança levada à perfeição pela oblação de Cristo na cruz, confiantes de que, «onde abundou o pecado, superabundou a graça (…) por Jesus Cristo» (Rom 5, 20.21). Ele, o Filho amado (cf. Mt 3, 17), veio para revelar o amor do Pai pela humanidade. Todo aquele que escuta o Evangelho e acolhe o seu apelo à conversão, torna-se, para Jesus, «irmão, irmã e mãe» (Mt 12, 50) e, consequentemente, filho adoptivo de seu Pai (cf. Ef 1, 5).
No entanto, os seres humanos não se tornam cristãos, filhos do Pai e irmãos em Cristo por imposição divina, isto é, sem o exercício da liberdade pessoal, sem se converterem livremente a Cristo. Ser filho de Deus requer que primeiro se abrace o imperativo da conversão: «Convertei-vos – dizia Pedro no dia de Pentecostes – e peça cada um o baptismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo» (Act 2, 38). Todos aqueles que responderam com a fé e a vida àquela pregação de Pedro, entraram na fraternidade da primeira comunidade cristã (cf. 1 Ped 2, 17; Act 1, 15.16; 6, 3; 15, 23): judeus e gregos, escravos e homens livres (cf. 1 Cor 12, 13; Gal 3, 28), cuja diversidade de origem e estado social não diminui a dignidade de cada um, nem exclui ninguém do povo de Deus. Por isso, a comunidade cristã é o lugar da comunhão vivida no amor entre os irmãos (cf. Rom 12, 10; 1 Tes 4, 9; Heb 13, 1; 1 Ped 1, 22; 2 Ped 1, 7).
Tudo isto prova como a Boa Nova de Jesus Cristo – por meio de Quem Deus «renova todas as coisas» (Ap 21, 5) – é capaz de redimir também as relações entre os homens, incluindo a relação entre um escravo e o seu senhor, pondo em evidência aquilo que ambos têm em comum: a filiação adoptiva e o vínculo de fraternidade em Cristo. O próprio Jesus disse aos seus discípulos: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15).
As múltiplas faces da escravatura, ontem e hoje
3.      Desde tempos imemoriais, as diferentes sociedades humanas conhecem o fenómeno da sujeição do homem pelo homem. Houve períodos na história da humanidade em que a instituição da escravatura era geralmente admitida e regulamentada pelo direito. Este estabelecia quem nascia livre e quem, pelo contrário, nascia escravo, bem como as condições em que a pessoa, nascida livre, podia perder a sua liberdade ou recuperá-la. Por outras palavras, o próprio direito admitia que algumas pessoas podiam ou deviam ser consideradas propriedade de outra pessoa, a qual podia dispor livremente delas; o escravo podia ser vendido e comprado, cedido e adquirido como se fosse uma mercadoria qualquer.
Hoje, na sequência duma evolução positiva da consciência da humanidade, a escravatura – delito de lesa humanidade – foi formalmente abolida no mundo. O direito de cada pessoa não ser mantida em estado de escravidão ou servidão foi reconhecido, no direito internacional, como norma inderrogável.
Mas, apesar de a comunidade internacional ter adoptado numerosos acordos para pôr termo à escravatura em todas as suas formas e ter lançado diversas estratégias para combater este fenómeno, ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura.
Penso em tantos trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos sectores, a nível formal e informal, desde o trabalho doméstico ao trabalho agrícola, da indústria manufactureira à mineração, tanto nos países onde a legislação do trabalho não está conforme às normas e padrões mínimos internacionais, como – ainda que ilegalmente – naqueles cuja legislação protege o trabalhador.
Penso também nas condições de vida de muitos migrantes que, ao longo do seu trajecto dramático, padecem a fome, são privados da liberdade, despojados dos seus bens ou abusados física e sexualmente. Penso em tantos deles que, chegados ao destino depois duma viagem duríssima e dominada pelo medo e a insegurança, ficam detidos em condições às vezes desumanas. Penso em tantos deles que diversas circunstâncias sociais, políticas e económicas impelem a passar à clandestinidade, e naqueles que, para permanecer na legalidade, aceitam viver e trabalhar em condições indignas, especialmente quando as legislações nacionais criam ou permitem uma dependência estrutural do trabalhador migrante em relação ao dador de trabalho como, por exemplo, condicionando a legalidade da estadia ao contrato de trabalho... Sim! Penso no «trabalho escravo».
Penso nas pessoas obrigadas a prostituírem-se, entre as quais se contam muitos menores, e nas escravas e escravos sexuais; nas mulheres forçadas a casar-se, quer as que são vendidas para casamento quer as que são deixadas em sucessão a um familiar por morte do marido, sem que tenham o direito de dar ou não o próprio consentimento.
Não posso deixar de pensar a quantos, menores e adultos, são objecto de tráfico e comercialização para remoção de órgãos, para ser recrutados como soldados, para servir de pedintes, para actividades ilegais como a produção ou venda de drogas, ou para formas disfarçadas de adopção internacional.
Penso, enfim, em todos aqueles que são raptados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, servindo os seus objectivos como combatentes ou, especialmente no que diz respeito às meninas e mulheres, como escravas sexuais. Muitos deles desaparecem, alguns são vendidos várias vezes, torturados, mutilados ou mortos.
Algumas causas profundas da escravatura
4.      Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como um objecto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objectos. Com a força, o engano, a coacção física ou psicológica, a pessoa humana – criada à imagem e semelhança de Deus – é privada da liberdade, mercantilizada, reduzida a propriedade de alguém; é tratada como meio, e não como fim.
Juntamente com esta causa ontológica – a rejeição da humanidade no outro –, há outras causas que concorrem para se explicar as formas actuais de escravatura. Entre elas, penso em primeiro lugar na pobreza, no subdesenvolvimento e na exclusão, especialmente quando os três se aliam com a falta de acesso à educação ou com uma realidade caracterizada por escassas, se não mesmo inexistentes, oportunidades de emprego. Não raro, as vítimas de tráfico e servidão são pessoas que procuravam uma forma de sair da condição de pobreza extrema e, dando crédito a falsas promessas de trabalho, caíram nas mãos das redes criminosas que gerem o tráfico de seres humanos. Estas redes utilizam habilmente as tecnologias informáticas modernas para atrair jovens e adolescentes de todos os cantos do mundo.
Entre as causas da escravatura, deve ser incluída também a corrupção daqueles que, para enriquecer, estão dispostos a tudo. Na realidade, a servidão e o tráfico das pessoas humanas requerem uma cumplicidade que muitas vezes passa através da corrupção dos intermediários, de alguns membros das forças da polícia, de outros actores do Estado ou de variadas instituições, civis e militares. «Isto acontece quando, no centro de um sistema económico, está o deus dinheiro, e não o homem, a pessoa humana. Sim, no centro de cada sistema social ou económico, deve estar a pessoa, imagem de Deus, criada para que fosse o dominador do universo. Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro, dá-se esta inversão de valores».
Outras causas da escravidão são os conflitos armados, as violências, a criminalidade e o terrorismo. Há inúmeras pessoas raptadas para ser vendidas, recrutadas como combatentes ou exploradas sexualmente, enquanto outras se vêem obrigadas a emigrar, deixando tudo o que possuem: terra, casa, propriedades e mesmo os familiares. Estas últimas, impelidas a procurar uma alternativa a tão terríveis condições, mesmo à custa da própria dignidade e sobrevivência, arriscam-se assim a entrar naquele círculo vicioso que as torna presa da miséria, da corrupção e das suas consequências perniciosas.
Um compromisso comum para vencer a escravatura
5.      Quando se observa o fenómeno do comércio de pessoas, do tráfico ilegal de migrantes e de outras faces conhecidas e desconhecidas da escravidão, fica-se frequentemente com a impressão de que o mesmo tem lugar no meio da indiferença geral.
Sem negar que isto seja, infelizmente, verdade em grande parte, apraz-me mencionar o enorme trabalho que muitas congregações religiosas, especialmente femininas, realizam silenciosamente, há tantos anos, a favor das vítimas. Tais institutos actuam em contextos difíceis, por vezes dominados pela violência, procurando quebrar as cadeias invisíveis que mantêm as vítimas presas aos seus traficantes e exploradores; cadeias, cujos elos são feitos não só de subtis mecanismos psicológicos que tornam as vítimas dependentes dos seus algozes, através de chantagem e ameaça a eles e aos seus entes queridos, mas também através de meios materiais, como a apreensão dos documentos de identidade e a violência física. A actividade das congregações religiosas está articulada a três níveis principais: o socorro às vítimas, a sua reabilitação sob o perfil psicológico e formativo e a sua reintegração na sociedade de destino ou de origem.
Este trabalho imenso, que requer coragem, paciência e perseverança, merece o aplauso da Igreja inteira e da sociedade. Naturalmente o aplauso, por si só, não basta para se pôr termo ao flagelo da exploração da pessoa humana. Faz falta também um tríplice empenho a nível institucional: prevenção, protecção das vítimas e acção judicial contra os responsáveis. Além disso, assim como as organizações criminosas usam redes globais para alcançar os seus objectivos, assim também a acção para vencer este fenómeno requer um esforço comum e igualmente global por parte dos diferentes actores que compõem a sociedade.
Os Estados deveriam vigiar por que as respectivas legislações nacionais sobre as migrações, o trabalho, as adopções, a transferência das empresas e a comercialização de produtos feitos por meio da exploração do trabalho sejam efectivamente respeitadoras da dignidade da pessoa. São necessárias leis justas, centradas na pessoa humana, que defendam os seus direitos fundamentais e, se violados, os recuperem reabilitando quem é vítima e assegurando a sua incolumidade, como são necessários também mecanismos eficazes de controle da correcta aplicação de tais normas, que não deixem espaço à corrupção e à impunidade. É preciso ainda que seja reconhecido o papel da mulher na sociedade, intervindo também no plano cultural e da comunicação para se obter os resultados esperados.
As organizações intergovernamentais são chamadas, no respeito pelo princípio da subsidiariedade, a implementar iniciativas coordenadas para combater as redes transnacionais do crime organizado que gerem o mercado de pessoas humanas e o tráfico ilegal dos migrantes. Torna-se necessária uma cooperação a vários níveis, que englobe as instituições nacionais e internacionais, bem como as organizações da sociedade civil e do mundo empresarial.
Com efeito, as empresas têm o dever não só de garantir aos seus empregados condições de trabalho dignas e salários adequados, mas também de vigiar por que não tenham lugar, nas cadeias de distribuição, formas de servidão ou tráfico de pessoas humanas. A par da responsabilidade social da empresa, aparece depois a responsabilidade social do consumidor. Na realidade, cada pessoa deveria ter consciência de que «comprar é sempre um acto moral, para além de económico».
As organizações da sociedade civil, por sua vez, têm o dever de sensibilizar e estimular as consciências sobre os passos necessários para combater e erradicar a cultura da servidão.
Nos últimos anos, a Santa Sé, acolhendo o grito de sofrimento das vítimas do tráfico e a voz das congregações religiosas que as acompanham rumo à libertação, multiplicou os apelos à comunidade internacional pedindo que os diversos actores unam os seus esforços e cooperem para acabar com este flagelo. Além disso, foram organizados alguns encontros com a finalidade de dar visibilidade ao fenómeno do tráfico de pessoas e facilitar a colaboração entre os diferentes actores, incluindo peritos do mundo académico e das organizações internacionais, forças da polícia dos diferentes países de origem, trânsito e destino dos migrantes, e representantes dos grupos eclesiais comprometidos em favor das vítimas. Espero que este empenho continue e se reforce nos próximos anos.
Globalizar a fraternidade, não a escravidão nem a indiferença
6.      Na sua actividade de «proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade», a Igreja não cessa de se empenhar em acções de carácter caritativo guiada pela verdade sobre o homem. Ela tem o dever de mostrar a todos o caminho da conversão, que induz a voltar os olhos para o próximo, a ver no outro – seja ele quem for – um irmão e uma irmã em humanidade, a reconhecer a sua dignidade intrínseca na verdade e na liberdade, como nos ensina a história de Josefina Bakhita, a Santa originária da região do Darfur, no Sudão. Raptada por traficantes de escravos e vendida a patrões desalmados desde a idade de nove anos, haveria de tornar-se, depois de dolorosas vicissitudes, «uma livre filha de Deus» mediante a fé vivida na consagração religiosa e no serviço aos outros, especialmente aos pequenos e fracos. Esta Santa, que viveu a cavalo entre os séculos XIX e XX, é também hoje testemunha exemplar de esperança para as numerosas vítimas da escravatura e pode apoiar os esforços de quantos se dedicam à luta contra esta «ferida no corpo da humanidade contemporânea, uma chaga na carne de Cristo».
Nesta perspectiva, desejo convidar cada um, segundo a respectiva missão e responsabilidades particulares, a realizar gestos de fraternidade a bem de quantos são mantidos em estado de servidão. Perguntemo-nos, enquanto comunidade e indivíduo, como nos sentimos interpelados quando, na vida quotidiana, nos encontramos ou lidamos com pessoas que poderiam ser vítimas do tráfico de seres humanos ou, quando temos de comprar, se escolhemos produtos que poderiam razoavelmente resultar da exploração de outras pessoas. Há alguns de nós que, por indiferença, porque distraídos com as preocupações diárias, ou por razões económicas, fecham os olhos. Outros, pelo contrário, optam por fazer algo de positivo, comprometendo-se nas associações da sociedade civil ou praticando no dia-a-dia pequenos gestos como dirigir uma palavra, trocar um cumprimento, dizer «bom dia» ou oferecer um sorriso; estes gestos, que têm imenso valor e não nos custam nada, podem dar esperança, abrir estradas, mudar a vida a uma pessoa que tacteia na invisibilidade e mudar também a nossa vida face a esta realidade.
Temos de reconhecer que estamos perante um fenómeno mundial que excede as competências de uma única comunidade ou nação. Para vencê-lo, é preciso uma mobilização de dimensões comparáveis às do próprio fenómeno. Por esta razão, lanço um veemente apelo a todos os homens e mulheres de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo, o Qual Se torna visível através dos rostos inumeráveis daqueles a quem Ele mesmo chama os «meus irmãos mais pequeninos» (Mt 25, 40.45).
Sabemos que Deus perguntará a cada um de nós: Que fizeste do teu irmão? (cf. Gen 4, 9-10). A globalização da indiferença, que hoje pesa sobre a vida de tantas irmãs e de tantos irmãos, requer de todos nós que nos façamos artífices duma globalização da solidariedade e da fraternidade que possa devolver-lhes a esperança e levá-los a retomar, com coragem, o caminho através dos problemas do nosso tempo e as novas perspectivas que este traz consigo e que Deus coloca nas nossas mãos.

Vaticano, 8 de Dezembro de 2014.
[Franciscus]


Semana Nacional das Migrações - promovida pelos bispos do Estados Unidos

Há já muito tempo que os bispos dos Estados Unidos andam a pressionar o Governo no sentido de haver mais tutela dos emigrantes e de modo particular a reforma da imigração. Eles são favoráveis a um sistema que estabeleça um equilíbrio entre o respeito dos direitos com a solidariedade. O tema escolhido para este ano leva em consideração um aspecto particular do fenómeno: o drama das numerosas famílias separadas pela imigração.
O sitio web da Conferência Episcopal oferece uma série de subsídios e material informativo, mas também uma oração sobre o tema escolhido para este ano, e uma para a Criança Migrante para chamar a atenção sobre a sorte de muitos menores que emigram sem o acompanhamento de um adulto, fenómeno que aumentou muito este ano nos Estados Unidos, e não só, constituindo uma verdadeira emergência.
No site encontram-se igualmente algumas informações sobre o tráfico de seres humanos e sobre as modernas formas de escravatura e sobre o empenho da Igreja para contrastar este flagelo que afecta milhões de pessoas no mundo. A este respeito o site recorda os ensinamentos da Igreja contra o tráfico humano e a escravatura em todas as suas formas e indicam de modo particular o documento conciliar “Gaudium et Spes”, as firmes intervenções do agora Santo Papa João Paulo II e a exortação apostólica “Evangeli Gaudium” do Papa Francisco.
Um outro aspecto sobre o qual os bispos dos Estados Unidos se detêm são os sistemas de recrutamento da mão de obra estrangeira que nem sempre agem na legalidade, alimentado assim o tráfico e a exploração humana. A Igreja nos Estados Unidos estão também empenhadas nesta frente com iniciativas concretas em defesa da dignidade dos trabalhadores imigrados, os mais vulneráveis, pedindo também a reforma deste sistema de recrutamento.
No que toca aos menores não acompanhados, os bispos já intervieram diversas vezes nos últimos meses.
Amplo espaço é também dedicado à emergência dos refugiados em fuga devido ao ISIS. O site chama a atenção para a visita realizada de 19 de Setembro a 4 de Outubro passado de uma delegação do serviço para os Migrantes e Refugiados do Episcopado à Grécia, Turquia e Bulgária, onde procuraram refúgio muitíssimos sírios e iraquianos, mas também pessoas doutros países em conflito.

(DA) 


terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Mamá, quiero quedarme en España

Datos sobre inmigración
§  En julio de 2014 había 4.538.503 de extranjeros en España, un descenso del 10,53% respecto a enero de 2013, cuando había5.072.680. Esas cifras no tienen en cuenta las personas que poseen la doble nacionalidad.
§  Este descenso se ha producido por la emigración y la adquisición de nacionalidad española.
§  Los ecuatorianos (187.025), los colombianos (154.320), los bolivianos (109.596) y los peruanos (71.755) son las principales comunidades latinoamericanas en España. Tampoco se tiene en cuenta a las personas que poseen la doble nacionalidad.
§  Los rumanos (721.445) y los marroquíes (697.074) son los principales extranjeros en el país y los que, en término absolutos, más han emigrado. Sin embargo, los latinoamericanos son la mayoría en su conjunto y también los que, en términos relativos, más han regresado a sus países de origen. Durante el primer semestre de 2014, los mayores descensos se dieron entre losperuanos (-14,8%)los bolivianos (-14%) y los ecuatorianos (-12,6%), una tendencia que no ha cambiado desde 2012.
§  Dado que no hay cifras absolutas, en el número de extranjeros retornados no aparecen los que tienen doble nacionalidad.
§  La segunda generación de inmigrantes en España tiene en torno a 18 años.
§  El 77,7% de los que nacieron en España (hijos de padres extranjeros) y el 22,1% de los que llegaron de otro país decían sentirse españoles en 2008, porcentajes que, en 2012, se incrementaron al 81% y al 43,6%.
§  El 77% de los padres inmigrantes aspiran a una graduación universitaria para sus hijos. El 87,4% dijo estar "muy satisfecho" con la educación de sus hijos en España y un 90,85% opina que tendrán las mismas oportunidades de prosperar que los nativos.
Fuentes: Instituto Nacional de Estadística; Informe Crecer en España: la integración de los hijos de inmigrantes



Daniela Montes suele definirse como “un bicho raro”. Nació en Barranquilla, en Colombia; creció en Jerez de la Frontera, en Cádiz; y, a los 25 años, lleva cuatro residiendo en Madrid. Estaba segura de que sus padres iban a envejecer tranquilamente en España, pero la crisis ha resultado demasiado dura y no han quedado alternativas. Su padre regresó a Colombia a principios de diciembre y, en las próximas semanas, su madre también se volverá al país del que salieron hace 15 años. Esta Navidad la ha pasado con ella en el piso donde vive, en Atocha. No sabe cuándo volverá a verla. Aun así, no quiere marcharse. Prefiere quedarse en España, aunque sea sola, con las “alas rotas”. Siempre lo tuvo claro. Se siente española o, como puntualiza, “¡andaluza!”.
Muchos jóvenes desean quedarse para tener una mejor formación
El de Daniela no es un caso aislado. Por la crisis, miles de inmigrantes se han visto obligados a regresar a sus países de origen tras años de duro trabajo. Los latinoamericanos, que representan la mayoría de los más de 4,5 millones de extranjeros que viven en España (un descenso del 10,5% desde enero de 2013, según el Instituto Nacional de Estadística, que no tiene en cuenta los que poseen la doble nacionalidad) son también los que más han retornado. Son sobre todo ecuatorianos, peruanos, colombianos, dominicanos o bolivianos que, sin embargo, suelen encontrar dificultades a la hora de convencer a sus hijos de que se tienen que marchar. Muchos de ellos nacieron en España. Otros llegaron muy pequeños o adolescentes. Y al contrario que sus padres, fueron criados y educados en el país que les acogió. “Han compartido sus experiencias a lo largo de 10, 15 años, aquí en España. Como es lógico, muchos se sienten más españoles”, sostiene Félix Arturo Chipoco, cónsul de Perú en Madrid.
“Los chavales no quieren cambiar de pandilla de amigos, de colegio y, mucho menos, de país. Y si el retorno implica además peores condiciones de vida (peor educación y sanidad, transporte público más caro o inexistente y más violencia en las calles), la resistencia es aún mayor”, explica Carmen González, investigadora de Demografía y Migraciones Internacionales del Real Instituto Elcano. A menudo, los padres deciden quedarse en España por sus hijos. Otros se ven obligados a regresar. “Cuando los jóvenes han nacido en España o llegaron muy pequeños, no se habla de retorno al país de origen ni de reintegración, sino de emigración y de una nueva integración social”, explica María Luz Valdivia, presidenta de la Fundación Acobe, que auxilia en el proceso de retorno voluntario.
Han nacido aquí o han llegado muy pequeños; se sienten españoles
Rosa Aparicio, catedrática de Sociología de la Universidad Pontificia de Comillas e investigadora del Instituto Universitario José Ortega y Gasset, sostiene que “cuanto más tiempo pasan en el país, más aumenta el sentimiento de pertenencia”. Esta experta es coautora del estudioCrecer en España: la integración de los hijos de inmigrantes, que concluye que el 78,4% de la segunda generación de inmigrantes (de cualquier nacionalidad) no han tenido problemas para integrarse.Pero pese al poco rechazo hacia la inmigración, el “gran reto” es la falta de oportunidades de trabajo, ya que “la integración se produce sobre todo a través del empleo cuando se es adulto”, explica González.
La educación es uno de los factores más influyentes en el deseo de los jóvenes de quedarse. La primera generación de inmigrantes, integrada sobre todo por personas de origen más humilde, veía en España una oportunidad de encontrar trabajo y lograr una mejor calidad de vida. La segunda espera que España les dé mejores condiciones para formarse como profesionales. “Eso también es resultado de las ambiciones de sus padres, que aspiran a que sus hijos les superen”, explica Aparicio.
EL PAIS

Alemanha precisa da imigração, diz ministro das Finanças após movimento antiasilo

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble, afirmou neste sábado que a imigração é boa para país e que políticos devem explicar melhor o que todos podem ganhar com ela, em resposta ao surgimento de um novo movimento contra a entrada de imigrantes muçulmanos.
O número de requerentes de asilo na Alemanha, muitos da Síria, mais que dobrou este ano, chegando a cerca de 200.000, e a imigração normal atingiu seu nível mais alto em duas décadas.
Muitos alemães estão preocupados com os custos relacionados à imigração e com o fato de que os refugiados possam tomar posições de trabalho.
O surgimento súbito do movimento popular Pegida, ou Europeus Patrióticos contra a Islamização do Ocidente, que na semana passada organizou um ato reunindo 17.500 anti-imigrantes na cidade oriental de Dresden, obrigou os legisladores a responder.
“O mundo está mais aberto e a imigração ajuda a todos. Assim como usamos milhões de refugiados e exilados depois da Segunda Guerra para reconstruir... hoje nós precisamos da imigração também”, disse Schaeuble ao Bild Online, ao ser perguntado sobre a popularidade do Pegida.
A imigração passou a fazer parte da agenda política da Alemanha. Alguns membros do bloco conservador da chanceler Angela Merkel estão preocupados com o risco de perder apoio se não responderem ao medo das pessoas.
Eleitores já puniram governos em diversos países europeus, incluindo Grã-Bretanha e Suécia, por falharem em responder à altura sobre a questão da imigração.
“Claro que temos de conviver com os imigrantes. Isso irá mudar a nossa rotina, mas não a deixará pior, mas irá melhorá-la”, acrescentou Schaeuble, membro do Partido Democrata Cristão (CDU), de Merkel.
A imigração é um tema particularmente sensível na Alemanha por causa de seu passado nazista. As regras alemãs de asilo estão entre as mais liberais do mundo.
Schaeuble disse que políticos precisam melhorar a explicação a respeito das mudanças na vida diária, e ele repetiu comentários feitos pelo presidente Joachim Gauck nesta semana afirmando que as pessoas não devem ficar com medo.
“As pessoas estão certas ao temer o terrorismo islâmico. Mas não o Islã”, declarou.
Madeline Chambers


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Bebê nascido em barco de imigrantes comove os italianos no Natal

País que recebe 170 mil imigrantes todos os anos, a Itália se emocionou neste Natal com a história de Testimony Salvatore, criança que nasceu na quinta-feira (25), a bordo do Etna, um navio militar que resgatou centenas de pessoas que estavam à deriva no Mar Mediterrâneo. Entre os imigrantes estava a mãe de Testimony, Kate, uma nigeriana de 28 anos.
O bebê Testimony Salvatore nasceu minutos após atingir solo italiano.
Marinha Italiana

Kate viajava com outra filha, uma menina de 15 meses. As duas partiram da Nigéria há dois meses e embarcaram na Líbia na última terça-feira (23), depois de ter deixado o marido e dois filhos, de 6 e 10 anos, na Argélia. “Estou muito feliz com o nascimento do meu filho. Tive muito medo, mas tudo deu certo”, celebrou Kate, ainda no hospital.
Apesar de ter virado um “conto de Natal com final feliz” na mídia italiana, a história da nigeriana e seu bebê chamou a atenção para o drama vivido cotidianamente por imigrantes africanos que tentam atravessar o Mediterrâneo rumo à Europa. Somente nos últimos dias, 2,3 mil pessoas foram resgatadas pela marinha italiana. Na semana passada, haviam sido mil. A média é de 475 imigrantes por dia – mais de metade vem da Síria e da Eritreia.
Apesar dos esforços italianos, no último ano o número de vítimas fatais ao tentar a travessia atingiu um recorde de 3,4 mil pessoas, segundo a ONU, que denunciou a “indiferença chocante” dos países europeus em relação ao problema.
Chefe dos coiotes é identificado
Mais de 80% dos imigrantes tenta a viagem sobre barcos infláveis ou em velhos barcos de pesca que partem da Líbia, onde o caos político desde a queda de Muamar Kadafi facilita a fuga sem fiscalização. Segundo a imprensa italiana, um egípcio de 32 anos foi identificado como o chefe da quadrilha que organiza a rede de imigração. A polícia chegou a seu nome depois de interceptar ligações telefônicas dos coiotes que trabalham nos barcos líbios. A quadrilha cobra milhares de euros de cada pessoa para realizar a travessia.
Como a marinha italiana é obrigada, pelo Direito Marítimo internacional, a responder aos pedidos de resgate, os coiotes fazem cada vez menos esforço para realizar as viagens. A Itália precisou reduzir, recentemente, sua principal operação de segurança, a “Mare Nostrum”, alegando não ter apoio financeiro de seus pares da União Europeia.

Salva-vidas italianos também informaram na semana passada sua preocupação com uma nova prática dos coiotes, que começam a utilizar navios de comércio no final de seus trajetos. Estas embarcações são mais seguras, mas mais difíceis de conduzir. No dia 20 de dezembro, oficiais precisaram subir em um destes barcos que havia sido abandonado com o motor ligado em piloto automático, para salvar 850 imigrantes que estavam a bordo.
RFI

Organizações internacionais apelam ao fim da violência contra imigrantes

Organizações de defesa dos direitos humanos apelaram às autoridades de Angola para acabarem de imediato com a perseguição e detenção arbitrária de imigrantes africanos que tem acontecido nos últimos dias, denunciando o recurso a "tratamentos desumanos e cruéis".
Segundo as organizações, durante os últimos dias as forças de segurança angolanas iniciaram uma "nova luta" contra a imigração clandestina, sendo os cidadãos africanos não-angolanos violentamente detidos na rua, em suas casas e no trabalho e transportados para o centro de detenção em Trinita, a 30 quilômetros de Luanda, onde são sujeitos a "tratamento cruel e desumano".
"Condenamos estas violações graves dos direitos dos imigrantes e exortamos as autoridades a por fim a esta violência, a respeitar os instrumentos jurídicos internacionais que Angola ratificou bem como a chamar a atenção dos países de origem da imigração para a gravidade da situação", lê-se na página da Internet da International Federation for Human Rights (FIDH).
As organizações internacionais querem também que o centro de detenção de Trinita seja fechado imediatamente e que se iniciem investigações para averiguar a violação dos direitos humanos e chegar aos seus autores.
No passado dia 21, a Lusa noticiou que cerca de 900 imigrantes ilegais foram detidos em Luanda, pela Polícia Nacional angolana, numa mega operação de fiscalização realizada durante o fim de semana.
O porta-voz do Ministério do Interior de Angola, Eduardo de Sousa Santos, disse, em declarações à rádio pública angolana, que dos 2.161 estrangeiros inspecionados, 884 encontravam-se em situação ilegal.
O grupo de imigrantes ilegais é constituído por cidadãos de países europeus, americanos, asiáticos e africanos, mas a maioria são da vizinha República Democrática do Congo.
"Muitos desses cidadãos não possuem consigo documentos de viagem, passaportes. Muitos deles até nem estão definidas as suas nacionalidades", referiu o responsável, sublinhando a necessidade de serem contactados os consulados dos respectivos países para a identificação


Minuto a Minuto

sábado, 27 de dezembro de 2014

Há uma linha que separa um imigrante do outro e foi Obama que a criou

Antes mesmo de o Presidente Barack Obama ter acabado de explicar a sua ordem executiva sobre a imigração, eles — os operários da construção, os seguranças, os jardineiros, os pintores e os operários fabris que vivem no parque de atrelados na zona sul de Richmond — já sabiam. Alguns vão ficar para trás. É a história da vida deles — sempre que alguém traça uma linha, uns ficam do lado de cá e outros do lado de lá.
Aqui, como noutros enclaves de imigrantes por todo o país, eles juntaram-se em salas de estar, em cafetarias, dentro de carros e, com os rádios ligados, ouviram o anúncio do Presidente. E foi isto o que ouviram: Vou proteger muitos de vocês da deportação, mas talvez não proteja todos os vossos vizinhos. Vou dar a muitos de vocês segurança social, mas vou deixar os outros com os seus cartões falsos e os pagamentos por baixo da mesa. Alguns vão ter cartas de condução legais, outros têm que se desenrascar com o que têm. Uma mulher que teve um filho neste país merece o mesmo do que a mulher que teve o filho noutro país ou do que um homem sem filhos, mas isto é o melhor que eu consigo fazer agora.
A linha divisória ecoou por todo o país. Nos dias que se seguiram, o anúncio de Obama deixou um travo agridoce.
Dentro e fora. Foi assim no tempo da Administração Reagan, nos anos 1980. É assim hoje, apesar de o impacto desta decisão presidencial não ser tão grande. Obama traçou uma linha divisória — temporária, condicional, mas uma linha. Vários milhões de pessoas vão ficar de um lado. Muitos outros milhões ficarão do outro.
O operário da construção civil que tem a caravana verde desbotado, um homem orgulhoso com um chapéu de cowboy que grita por Chihuahua e tem uma fivela no cinto que parece uma pistola mas é na verdade um isqueiro, fica de fora. Não tem qualquer hipótese. Vive aqui há 16 anos, mas não tem filhos nascidos nos Estados Unidos, não tem filhos com direito a residência legal. Obama deixou claro que só as pessoas com filhos cidadãos teriam direito a uma autorização de trabalho, ficando temporariamente protegidos da deportação.
A mulher das Honduras, essa fica dentro. Há 12 anos no país, tem duas crianças nascidas nos EUA. E um cadastro limpo. Conta que está em pulgas para ter, finalmente, uma carta de condução, e acrescenta que nunca perdeu a esperança no Presidente.
Neste bairro, a linha que Obama traçou anda em ziquezague: Eulogia de Jesus, mãe de quatro jovens cidadãos americanos, residente nos EUA há 14 anos, está dentro. O marido, com duas detenções por condução sob o efeito de álcool — a última das quais o pôs na ala de detenção de imigrantes ilegais — não deverá conseguir ficar do lado certo da linha.
A linha volta a ziguezaguear pelo bairro: Tomas Policao, há dez anos no país, pai de um americano de dois anos, está apto. Mas o seu jovem irmão, Bonifácio, há oito anos na comunidade, mas que é solteiro e que dorme no quarto ao fundo do corredor, está fora.
Gisela Munguia, das Honduras, e Freddy Velasquez, de El Salvador, no país há 12 e 20 anos, respectivamente, e pais de dois filhos nascidos na América, estão dentro. Mas esperam: quando saiu das Honduras, Gisela deixou um filho de quatro anos que, no ano passado (11 anos depois) se juntou à mãe na América. Foi um dos menores que atravessaram, sozinhos, a fronteira e se entregaram às autoridades. Agora está à espera de ir a tribunal — de que lado está ele, está dentro ou fora?, pergunta a mãe.Pedir reacções a esta realidade dividida é um exercício complicado. Há generosidade e contentamento pela sorte dos outros, mas não imunidade à inveja. A alegria e o alívio andam a par da desilusão e da consternação.
Responda a isto, dizem Luis Alberto Reyna, o homem de Chihuahua, Adrian Granados, de Guanajuato, e Juan Robledo, de Guerrero (os três receberam a amnistia de Ronald Reagan): como é que nós, que trabalhamos neste país há mais de cinco anos, mas que não temos filhos, ficamos de fora?
“Nunca tive apoio do Governo”, diz Reyna. “Não tenho cadastro. Nunca pedi nada, nunca sobrevivi graças a subsídios. Quando os meus dentes se estragaram, arranquei-os eu próprio”. “Eu fiz o mesmo”, diz Granados. “Foram os molares”. “Por que é que estamos nesta situação?”, pergunta Reyna. “Por que é que isto acontece?”
Bonifacio Policao, um operário fabril solteiro e sem filhos, encolhe os ombros a esta discussão: “Nada disto me interessa. Fico contente pelos meus irmãos”.
Durante o anúncio de Obama, a 20 de Novembro, todos se juntaram para ouvir o Presidente — e agradeceram, e desejaram que mais gente pudesse ser abrangida pela ordem presidencial. Velasquez ouviu o anúncio com o coração apertado, tentando controlar-se. Mal Obama acabou de falar, telefonou à mãe, que estava a morrer em El Salvador, aos 85 anos. “Espera por mim”, disse-lhe ele. “Chego muito em breve, chego mal seja ‘aprovado’”. Mas a mãe respondeu-lhe que estava velha e pronta para morrer, e morreu dois dias depois.

 PPortugal

Europa bate recorde de imigrantes em situação irregular, diz Frontex

A UE (União Europeia) registrou em 2014 um número recorde de 270 mil imigrantes em situação irregular, com Itália e Grécia como principais destinos, segundo dados da Frontex (Agência Europeia de Fronteiras).
Em entrevista à Agência EFE, o diretor adjunto da entidade, Gil-Arias Fernández, disse que, com relação a 2013, as chegadas de imigrantes se multiplicaram por mais de 2,5 este ano, o que representa o dobro do número até agora considerado um recorde, com 141 mil chegadas em 2011 devido ao efeito da "primavera árabe" em vários países.
Depois da Itália e da Grécia, os imigrantes chegam em maior quantidade a Bulgária, Hungria e Espanha. O diretor de Frontex atribui esta alta da imigração a situação instável nos países de origem e a ausência de controle nos de passagem, como a Turquia e a Líbia.
"Os números de maior volume de chegadas do Mediterrâneo procedem do litoral da Líbia", afirmou. Fernández também explicou que disparou o número de casos de imigrantes que fogem de seus países buscando proteção internacional.
"Se há alguns anos a tendência era de 50% de imigrantes por motivos econômicos e a mesma porcentagem de refugiados políticos, este ano fecharemos com cerca de 80% de imigrantes chegados à UE que preenchem os requisitos de refugiados", garantiu.
Embora Frontex só conclua o levantamento em janeiro, o diretor adiantou que os dados totais de chegadas superarão os de 270 mil pessoas, já que no final de novembro foram contabilizados 260 mil imigrantes resgatados.
A isso se somarão as chegadas das últimas semanas que deve ser de, aproximadamente, 11 mil.
Fernández prevê um futuro pessimista sobre o fluxo de imigrantes e afirmou que acredita que os números deste ano serão mantidos se a UE e os Estados-membros "não atuarem com certa inteligência e encontrarem soluções para evitar a perda de vidas humanas como vem acontecendo".
"Se não se encontrarem soluções políticas para os países de origem, onde a UE e a comunidade internacional podem influir, e nos de passagem, como a Líbia na qual parece que sua situação não melhorará em curto prazo, penso que a situação se manterá parecida à atual", concluiu. 
 R7

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Ola migratoria reveló crisis humanitaria en Centroamérica

Unos 68 mil niños de Guatemala, El Salvador y Honduras, principalmente, emprendieron una peligrosa travesía terrestre y lograron ingresar ilegalmente a Estados Unidos, muchos de ellos motivados por el deseo de reencontrarse con sus padres, residentes en aquel país.
Pero también la situación de pobreza y la urgencia de escapar al reclutamiento forzoso de las pandillas fueron factores determinantes de este flujo, que las autoridades estadounidenses definieron como una crisis humanitaria.
Los gobiernos de los países centroamericanos realizaron gestiones para que los menores no fueran deportados y que su situación la ventilara un juez migratorio.
El 14 de noviembre último, los presidentes de los tres países presentaron en Washington un plan denominado Alianza para la Prosperidad en el Triángulo Nortecuyo principal objetivo es combatir la pobreza y la violencia como medio de desestimular la emigración.
Este plan marca un hito importante en la cooperación y en los esfuerzos trinacionales que desarrollamos”  y esperamos comenzar a implementar algunas medidas del plan el próximo año, declaró el canciller salvadoreño Hugo Martínez.
En noviembre, Estados Unidos se comprometió a abrir un programa que permitiría a los inmigrantes regulares de estos tres países solicitar, bajo ciertas condiciones, el estatuto de refugiados para sus hijos solteros menores de 21 años.

- Imparable migración -
Analistas reconocen la importancia del Plan para la Prosperidad pero advierten que superar los rezagos que generan la pobreza y la violencia asociada de las pandillas llevará muchos años.
La migración no se va a detener mientras no se mejore la calidad de vida y se invierta en educación, salud, seguridad y mejoramiento de la economía, advirtió en Guatemala la directora de la Mesa Nacional para la Migración  (Menamig), Julia González.

En Guatemala no hay condiciones para vivir con tranquilidad y la situación es dramática para los niños y jóvenes. Lo que se da es una expulsión forzada porque no es una migración voluntaria, destacó la directora de Menamig.
A pesar de los peligros que supone el recorrido por tierra o mar, los padres en Estados Unidos pagan hasta US$8 mil a coyotes  (traficantes de personas) para trasladar a sus hijos y sacarlos del peligro en que han caído sus comunidades de origen.
La responsable de asuntos migratorios del Instituto de Derechos Humanos de la Universidad Centroamericana  (UCA), Karla Salas, advierte que el problema es grande y complejo porque la migración se ha convertido en un factor de sobrevivencia.
Antes para la reunificación familiar se esperaba que el niño cursara el bachillerato, ahora han tenido que adelantar el proyecto migratorio porque los niños están siendo acosados por pandillas o sus familias están siendo extorsionadas porque sus padres se vuelven blanco perfecto por las remesas que mandan, explicó Salas.
Pero la migración tampoco salva de la violencia. No hay un solo niño que regrese a Honduras ileso; todo niño que ha emigrado regresa con una cicatriz de violencia, lamentó en Honduras el director de Casa Alianza, Guadalupe Ruela.
Además, la amenaza de la deportación está siempre presente. Las estadísticas de deportados vía aérea desde Estados Unidos, de enero a noviembre, llegaban a 110 mil 320 entre los tres países. La cifra en igual periodo del 2013 fue de 102 mil 609, según datos oficiales.

Complicado financiamiento
El Plan de la Alianza para la Prosperidad presentado en noviembre en la sede del Banco Interamericano de Desarrollo  (BID) está basado en cuatro pilares: emprendimiento y creación de empleo; seguridad, capacitación técnica y fortalecimiento institucional. Su objetivo es llevar fondos a los municipios de mayor migración.
Estados Unidos, se comprometió a colaborar con un monto no especificado y prometió estimular a organismos multilaterales para que brinden su ayuda y para que grandes empresas hagan inversiones estratégicas en poblados de mayor migración.

El analista y profesor universitario salvadoreño Roberto Cañas advirtió queel Plan para la Prosperidad es una declaración de buenas intenciones”  porque Estados Unidos no estableció montos de ayuda, que para ser liberada deberá sortear el camino del Congreso dominado por los republicanos.
Para Cañas sería injusto”  que los tres países contraigan mayores deudas para atenuar un fenómeno migratorio en el que Estados Unidos tiene unacorresponsabilidad.


POR AGENCIA AFP / EL SALVADOR